terça-feira, 2 de novembro de 2010

Excerto sobre o Partido Não-Governamental

Por André Andrade
                                                                                           "...o governo é apenas uma conveniência...e todos os governos, por vezes, são inconvenientes..."
Thoreau, A desobediência Civil.

P.S. Adiantado: Esse texto é de cunho normativo.


 Entendo que há diversas formas de agir politicamente, e não apenas pelas vias, digamos, eleitorais, no qual direcionamos representantes para as câmaras legislativas, senado e centros executivos. Existem alternativas de manifestação política sem necessidade de enquadramento em um sistema político já corroído pelos jogos do poder. A escola é o grande exemplo de lugar onde se pode exercer esse tipo de ação. Contudo, deve-se promover a organização de um partido que não alimente nenhuma intenção de se contaminar com o pleito eleitoreiro.

Um partido político antes de tudo é uma seita ideológica. Formula-se um ideal fundante e daí se desdobram todas as suas premissas, podendo estas pender pra uma perspectiva esquerdista ou direitista, de acordo com a convenção de idéias a que chegam os partidários de tal partido. Figuração bastante forte em nosso país, esse sentido de ser da esquerda ou da direita,aforismos importados da revolução francesa. Acontece que num sistema político pluripartidarista, no qual se tem uma série de barganhas, alianças partidárias (interesseiras), formações de grupos de coalizão, esses sentidos perdem o sentido.

Não existe mais esquerda ou direita. O que existe são partidos da oposição e partido do governo e aliados. Em seus projetos políticos, lá no papel, podemos encontrar formulações pelos que prezem pelas mudanças, reformas, ou aqueles que preferem uma otimização do que está posto, porém, todos se curvarão ao fenômeno da “estabilidade” social. Entre discursos e ações, há um vácuo enorme.

No entanto, ao dizer estas coisas, quero fundamentar a idéia de um partido não-governamental. Os estadunidenses tiveram a grande sacada e a incorporaram em seu vocabulário. Eles referem à Policy àquele tipo de políticas públicas de responsabilidades do Estado, e à Politics o tipo de política desempenhada por nós, indivíduos, enquanto atores sociais, com o intuito de livre expressão, o que é altamente condescendente numa democracia. Nós, brasileiros, desprezamos esse último conceito. Enxergamos a política apenas como pleito eleitoreiro, a política como meio para se eleger e viver às custas do poder público, além de servir como catarse de sofrimento do povo (“corja de ladrão”, “corruptos”...e outras coisas que não se podem por aqui).

Quando se pensa num partido não-governamental, se pensa nas Politics no qual nós enquanto indivíduos que detém determinadas instâncias institucionais, podemos agir de acordo com nossa ideologia (aqui no sentido de conjunto de idéias convencionadas entre os partidários) comungada entre os nossos comuns. Então, esclareçamos o projeto de partido não-governamental começando pelo fato dele ter de ser não-governamental. Ora, o enquadramento sofrido pelos partidos ao ingressarem na Policy causam sua corrosão, pois terão de cederem, abrir mão de suas premissas para se integrarem a um sistema já estabelecido, acomodado, e com suas normas ditadas. Não é necessário eleger pessoas para que partidos se legitimem, e para que partidários virem políticos, aliás, no PNG, não se busca legitimação, se busca ação e transformação.

A ideologia do PNG se fundaria numa perspectiva critica de olhar a sociedade, de nos situarmos enquanto sujeitos sociais e de “conciencialização” das classes desfavorecidas para que a partir dessas reflexões se possam permitir mudanças de hábitos comuns que alienam essas classes, as mantendo na situação em que se encontram. O fato de ser um partido remete a idéia de organização, de ações centradas em determinados objetivos e em sincronia. Certo, porque não uma ONG ao invés de um partido? Primeiro que a idéia do partido não é se mostrar, mas também não é agir em clandestinidade, embora não precisa ninguém saber que existe um partido com idéias subversivas agindo em sala de aula. E porque não um movimento? Porque não tem uma causa fixa, como a luta pela terra, por casa, mas tem objetivos que é esclarecer, “conciencializar” as pessoas no sentido de formar sujeitos críticos de seus contextos e questionadores de certos fatos tidos como naturais em seu meio, o que não deixa de ir ao encontro dos interesses dos movimentos sociais. Lembro de um movimento que surgiu a um tempinho atrás chamado “Cansei!”, no qual as pessoas apareceram com narizes de palhaço e tal. A lógica que motivou esse movimento será a nossa lógica, no entanto, não será intermitente, será constante e politizado e infiltrada na educação.

A escola pública seria o lugar central de ação do partido. Primeiro porque é a instituição no qual se produzem seres passivos que formam em maioria a nossa sociedade. O Estado impõe certos cerceamentos que impedem a escola de desenvolverem projetos que beneficiem seu público, e conspiratoriamente falando, o mesmo não quer que as classes subalternas se esclareçam.

Vou encerrar por aqui e continuarei no próximo post para não se tornar massificante, mas quero esclarecer duas coisas. Não sou anarquista e nem anti-governista, penso apenas que ações voluntaristas organizadas agindo sincronicamente em salas de aulas promovendo profícuos debates com jovens contribuirão para a formação de seres atuantes em sociedade. É o Estado agindo (e coagindo) de uma ponta, e nós agindo da outra ponta no qual os raios de governabilidade reluzem somente alguns feixes de luzes. E a outra questão é pra quem desdenhar da idéia do PNG, ninguém desdenha da TV que é um instrumento alienador que age em silêncio nos lares das famílias, e consegue eficientemente cumprir o seu papel de acomodar as classes desfavorecidas em seu lugar de miséria, mantendo-os manipuláveis. Pra mim, a impossibilidade é uma Utopia (essa sim no sentido de ser inatingível).


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