sexta-feira, 30 de julho de 2010

Elucubrações sobre a querida Itabuna I

Queria escrever um texto sobre minha querida cidade. Não me questionem o fato de eu considerá-la querida para mim, pois essas coisas não se explicam. Nasci em Itabuna, cresci por essas bandas, e mesmo agora que estou morando numa cidade próxima a ela, não me desfaço de minha comiseração por ela. Sei lá, deve ser esse sentimento de pertença que todo ser humano deve ter cuja identidade está ligada ao chão da terra onde nasceu e quer morrer.

Pretendia escrever esse texto e por um título aludindo ao romance do Garcia Marques, os Cien Años de Soledad, só que alguém em algum desses blog-sites de repercussão da região já pegou a idéia no ar. Também não fazia tanta questão, já que faz tempo que li o romance e não me lembro muito do enredo. Tenho algumas lembranças vagas, como a de uma certa personagem da história que foi morta por um tiro no qual o cheiro da pólvora ficou pairando na atmosfera por um bom tempo em Macondo. Nem a distância do túmulo pra cidade conseguia evitar a dispersão do forte cheiro de pólvora. Até o leitor do romance parece sentir o cheiro do pó explosivo. E, falando em fragrâncias fortes, e me reportando a Itabuna, é impossível estabelecer o paralelo com o Rio Cachoeira. Penso ser o maior patrimônio ambiental da cidade, e, no entanto, foi transformado em depositário de excremento humano. Não sou do tempo do Rio que o escritor Cyro de Mattos narrou em seus primeiros poemas dedicados a um rio de outrora, e sim da época dos últimos poemas listados no livro Vinte poemas do Rio. Porém, é compreensível o impacto espiritual que o escritor levou ao ter encontrado um rio totalmente diferente do que ele tinha em sua memória, e traduzir isto em literatura.

Sou da época do Rio Morto, em que as baronesas florescem em seu leito, e ficam presas na ponte do Marabá quando arrancadas por qualquer torrencial, e a prefeitura tem de intervir para retirá-las da base da ponte. O mal cheiro é tão forte e persistente que já se agregou à vida diária do transeunte que passa no entorno por onde o rio corta a Cidade. Poderia se tornar patrimônio imaterial o maldito aroma, para motivo de vergonha da população itabunense, que não percebem no rio uma vida a clamar por socorro. Não vêem nenhuma utilidade para esse afluente que a certo tempo atrás era fonte de renda para muitas populações ribeirinhas, base econômica para muita gente de renda pobre. Mas, quem irá valorizar a história regional, quando se tem de abrir o comércio e fazer circular o capital, existe coisas mais importantes a se fazer do que olhar para um rio desprezível, que desvaloriza a imagem da cidade com esse cheiro putrefato. Aí eu me recordo de um pensamento quando criança, ao contemplar o persistente percurso do Rio em direção ao leste, quando percebi que aquele rio não estava morto, estava apenas a guardar suas mágoas, ao acolher sem questionar a quem as imundícies de seu povo. E então o rio transbordaria de cólera, invadindo a consciência daquela população respondendo na mesma medida o sofrimento a que o impuseram: em forma de tragédia. Riria quando as pessoas começassem a especular que eram os avisos dos fins dos tempos, porque essa tragédia seria uma tragédia premeditada, previsível, e o povo, com seus costumes de culpar as entidades sobrenaturais pelo ocorrido, estariam repetindo a velha fórmula para se eximir da culpa.

Drasticamente,
André Andrade

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Apresentações e intenções: em busca de um papo-cabeça

Criei o blog no intuito de escrever sobre coisas que observo e questiono no meio em que vivo. Não quero aqui discutir um conceito pragmático a partir dos diversos autores que se debruçam sobre a análise da Pós-modernidade, muito menos os que negam a existência de tal. Porém, discorrer sobre o que eu penso do termo é expor minhas angústias que me levaram a criar este diário virtual.
Penso que estamos vivendo num tempo em que deixamos tudo acontecer, sem perspectiva de intervir. Estamos desfigurados, gélidos e imóveis diante de um tempo que está a nos consumir. Não existe mais uma coesão social horizontal, mas uma coerência vertical sem sentido. O consumismo tornou o curso da vida ligeira demais. Não estamos mais em busca de antídotos, mas de paliativos que logo perdem a validade.
Aceitamos o mundo que se expõe aos nossos olhos como imutável, e dessa forma, a efervescência jovem que está sempre a questionar o mundo vigente se perde em filosofias baratas. E, paulatinamente, definhamos intectual, cultural, moral, política - mente.
Por conseguinte, produz-se o ser pós-moderno, oco, sem subsídios para lhe dar com o tempo que o devora, sem direcionamento, e com uma bússola sem a agulha, percorre um traçado sem legado, um ser invisível que passou pela Terra sem deixar rastros.
Bem, é com essas elucubrações que quero abordar essas velhas questões humanas que resultaram nesta conjuntura pós-moderno, com um tom grave de denunciação. Quero, acima de tudo, denunciar a acomodação do ser humano, sua mediocridade latente que hoje resolveu se desfazer de seus disfarçes, um ser que se destituiu de toda poesia e de todo sentimentalismo, tornando-se insensato. Enterramos nossas riquezas culturais e literárias, em troca de mesquinharias. Pareçe que somos uma sociedade somente porque as casas estão construídas uma do lado da outra, comercializamos e  pagamos impostos. Não há uma razão sensível que a fundamente.
Então, estando claras minhas intenções, estou em busca de um papo cabeça, que entendendo meus questionamentos, possa contribuir de maneira dialógica no que diz respeito às questões que vou tentar expor nesse blog. Pretendo escrever semanalmente, na verdade, quinzenalmente, pois convidei um camarada, Humberto Rodrigo, que aceitou dividir esse encargo comigo, já que minha proposta é abordar diversas questões, assim teremos como dar conta do recado. No mais, era somente pra ser uma apresentação, dessa forma, deixo o convite para você, caríssimo leitor, estar sempre a nos visitar e deixar seu recado.

Peremptoriamente,
André Andrade