quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um Partido Não-Governamental: como é possível?



 Por André Andrde

 Por que a subversão deve ser tão barulhenta e espalhafatosa se a opressão age silenciosamente em nosso meio?

Depois de ter feito uma breve introdução fundamentando o porquê de um partido não-governamental (vide Excerto sobre o Partido Não-Governamental), o PNG, pretendo reafirmas as bases que sustentam tais idéias do partido articulando suas propostas com possíveis ações concretas. A práxis partidária se daria inicialmente num contexto escolar sobre a tutela dos professores que seriam os primeiros militantes do PNG. Tendo tal preceito em voga, faz-se necessário o uso de uma pedagogia crítica que combine a ideologia do partido, a emancipação[1] do ser a partir do conhecer, com a militância conjunta dos partidários nas escolas.
O preceito crucial que vai dar ao PNG toda a sua forma e característica peculiar é a concepção do voluntarismo. O agir deve se pautar em ações antiutilitaristas. Logo se percebe no contexto escolar a des-motivação dos professores pelo fato de vivenciar o menosprezo que o Estado tem para com as Escolas. Acontece que esta desmotivação é gerada justamente por conta de conceber que a mudança somente será possível quando o Poder Público tomar providências sérias quanto aos problemas da Educação. Essa forma de ver a política torna inativo agentes que detém determinadas características que podem transformar a realidade. Os professores formam uma classe trabalhadora esclarecida cuja profissão é transformar o indivíduo que não detinha certos saberes e que agora os conhecendo, agirá de forma diferente do qual agia (é valido salienta a troca de saberes que provém não só por parte dos professores, mas também de seu público estudantil, mas falar disso nesse texto é demasiado longo, deixarei a discussão para uma próxima oportunidade).
Esperar a motivação por parte das políticas públicas é um investimento de tempo muito caro e pouco satisfatório. Existe ainda a questão de que a classe docente é uma classe desunida, o que é observável em todo tipo de classe trabalhadora, em todo tipo de agrupamento humano. Quero mostrar com esses argumentos que não estou deslocado da realidade, que não estou “elucubrando”, e por isso mesmo, não transporemos essas dificuldades sem agirmos em convenção. Um partido não vem diminuir as diferenças, ao contrário, deve-se fazer a defesa das mesmas, mas o que se pretende com tal são ações convencionalizadas, inscritas num sentido de mudança. Se em todas as diferenças acharmos a ambição da transformação da realidade que está posta, já encontramos a convenção-alicerce de nosso partido.
O sujeito que integra o PNG deve se resumir a uma só característica: mártir. A má-remuneração dos professores, as limitações físicas e materiais do espaço escolar, as rixas políticas (no caso policys) infiltradas nas escolas dentre outros problemas vivenciados no cotidiano escolar não podem se tornar motivos para o enfraquecimento do movimento engajado proposto pelo PNG. As reuniões do partido serão espaços abertos para discussões dos problemas enfrentados, resultados alcançados, novas proposições para determinadas ações. A coesão do partido se fundará no grupo, e concomitante a isso, no ideal basilar: a emancipação do estudante a partir da práxis docente. Formulações de pedagogias radicalizantes serão prerrogativas que trarão a inovação para o agir docente combinado-se assim com a proposta de uma educação libertária. As salas de aula devem se transformar em lugares de micro-revoluções localizadas nas mentes dos seres pensantes.
Bem, fico com a sensação de que escrevi muito e disse pouco, mas é porque o que quero justamente passar se resume a três frases. Não agiremos na realidade transformando-a sem essa concepção de que podemos politizar nossas ações independente das políticas de pleito eleitoreiro. Essa práxis transformadora somente se dará aliada a uma motivação voluntarista. E a idéia mais implícita e expressa na epígrafe: a opressão somente será combatida se usufruirmos de seu mesmo (e eficiente) método: o silêncio.

P.S.: Peço perdão aos leitores e leitoras pelo fato de não ter postado o texto da semana passada, pois tive de viajar, sendo este o mesmo motivo do panoptiqueiro Humberto Rodrigo e aproveito para agradecer as visitas que aumentaram nas últimas semanas, merci.


[1] Emancipar no sentido de se libertar das amarras que aprisionam os seres humanos a um obscurantismo irracional, como no conhecido mito da caverna de Platão, e não no sentido de liberdade, discussão esta mais complexa.

Um comentário:

  1. É meu ilustre parceiro, parece que você andou lendo A Democracia na América, de Alexis de Tocqueville

    Humberto Rodrigo

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