terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fragmentos Avulsos...Pô, a gente só vê branco?!



Por André Andrade



Tudo começou como uma brincadeira. Não tenho prazer em assistir TV, mas reconheço que devemos ir além de nossas vontades se quisermos criar vínculos sociais e enturmar-se com seus grupos. Certo, aceitei abrir mão de minha estranheza com a TV, mas logo que me sentei frente à dita cuja me lembrei dos motivos que me fizeram deixar de dar atenção a este hipnotizante aparelho. 

Não é preciso ser um bom observador para perceber as distorções. Nas novelas, empregadas são negras e patrões são brancas. No “barraco” da favela sempre rola um churrasco confraternizador que fortalece a unidade da “comunidade” e nessa cena todas personagens são negras . Num desses realitys shows instantâneos de concurso de modelo, percebe-se a presença de uma negra mais como forçosamente encaixada no esquema do programa do que escolhida espontaneamente. Começo a contar quantas pessoas negras aparecem em propagandas e logo desisto, pois não se vê nenhuma. De repente, eis que surge uma representação destacável da africanidade em algum papel de novela, mas aí nota-se algumas singularidades imputadas ao seu papel. Normalmente é uma personagem com qualidades pouco estimáveis, quando não, são totalmente padecidos, precisando de ajuda dos brancos. As novelas esforçam-se em serem politicamente corretas (sic! 3x) mas distorcem a estética negra ao tornarem lisos os cabelos crespos. E quando uma atriz negra protagonizou certa novela, era da cor do pecado...

Curioso, há pouco vi essa atriz fazendo propaganda para que as pessoas assumissem sua cor NEGRA, por ocasião do censo. É curioso porque ninguém apareceu para fazer o mesmo tipo de propaganda para o branco. Sempre o negro está em questão enquanto que o branco está muito bem em seu lugar, vai tudo tranquilo...se fala em negritude, mas e a branquitude? Se se discute o preconceito contra o negro, é porque existe alguma outra cor que contrasta com essa, no caso, a branca. Se existisse somente uma cor na Terra, não haveria preconceito (pelo menos de cor!)! Aonde quero chegar? Bem, conquanto não colocarmos na pauta de discussões a branquitude, estaremos andando em círculos, pois a solução não está na conscientização de que somos todos iguais, porém diferentes, aforismo este que não se encaixa com a brutalidade do contexto real. Está no fato de por em xeque a cor branca tida como referência. A cor branca se torna referência quando ela é omitida desses debates, quando ela aparece como maioria grotesca na Tv, quando você vai ao shopping e parece que estamos assistindo a Tv. Destrone a branquitude de sua posição de comodidade, e construamos um diálogo onde todos serão expostos, todos serão visados, porque enquanto insistirmos em expor somente a imagem do negro, o alvo será somente o negro, e o arqueiro, o branco...

Fui há algumas semanas no shopping e lá vi uma exposição de fotos com a temática grávidas, e deduzi que em meio a umas 20 fotos, encontraria como se convencionou na TV, ter ao menos uma negra dentre as fotografadas. Deduzi errado. Dessa vez não houve dissimulação, resolveu-se não colocar nenhuma mãe grávida de pele negra na exposição. Dentre todas essas situações observadas eu surtei: -Pô, a gente só vê branco??!!! Estão pregando uma representação de mundo que não condiz com a nossa realidade! Olho ao meu redor e vejo uma miscelânea de cores e matizes que mostram a força de nossa miscigenação. Do cabelo às unhas do pé, estamos imersos numa confluência de fenótipos que nos tornam indistinguíveis uns dos outros. Aí eu vejo crianças brancas tomando sorvetes e crianças negras engraxando sapatos. Jovens brancos com mochilas e jovens negros com flanelinhas. O doutor é branco e o analfabeto é negro. Sei que alguma coisa tem mudado, mas as disparidades ainda são gritantes, basta ter um olhar estatístico...

Vi um panfleto na universidade que tratava do recente fato da mãe de santo que teve seu terreiro invadido por policiais sofrendo com isso agressões e discriminações dos milicos. O fato se tornou conhecido e foi parar até nas mesas do governador. O folhetim gritava: não vemos policiais invadindo igrejas e espancando pastores e padres...

 Então, de onde provém o preconceito? No que diz respeito à televisão, a minha opinião é que estamos sendo treinados pra enxergarmos somente branco, e por isso a discriminação se mostra nua e crua nas ruas das cidades, mas quem vai parar pra ver isso? 

Não sei se todos concordarão, mas eu acho que a pergunta mais idiota que se possa fazer a um brasileir@ (pra seguir o modismo) é: qual é sua cor. O meu nariz é senegalês...sou miscigenado! Podemos ter um fenótipo de branco e um genótipo de negro e virce-e-versa, afirmam os biólogos. Então, me pergunto, qual é a relevância de perguntar “Qual  a sua cor?”  pra um brasileiro? Provar que o preconceito está mais vivo do que nunca? Mas pra isso não precisa de questionários, censos, basta assistir televisão.

sábado, 27 de novembro de 2010

O PESO DA COR

Por Humberto Rodrigo


“Quando eu era pequena sempre ouvi meu pai dizer: ‘filha, estude mais um pouco. Somos negros e, por isso, temos que nos esforçar mais para termos as mesmas oportunidades que os brancos’”. Com este relato de uma colega, inicio o texto desta semana, rememorando o Dia da Consciência Negra comemorado esta semana (20/11). Alguém ainda duvida que a cor da pele é levada em conta como critério de desempate em seleção de emprego? Ledo engano daqueles que acham que não. Essa suposta democracia racial (conceito esse já embebido de preconceito) existe no Brasil, não passa de véu imposto por concepções neoliberais que, com sua delicada aparência, cobre as vistas dos menos atentos, quanto às questões ÉTNICAS patentes na sociedade brasileira.
O mercado de trabalho brasileiro é estritamente machista. Os homens dominam os cargos de comando, têm os salários mais altos e são promovidos mais facilmente. Talvez eu tenha esquecido de dizer que esse é o homem BRANCO. A escala de salários, para trabalhadores de uma mesma função, é decrescente conforme o gênero, mas também conforme a cor (?). Para funcionários de uma mesma função, temos uma variação descendente onde no topo com os maiores salários está situado o homem branco, logo em seguida a mulher também branca (entre esses dois há um significante abismos), próximo, mais ainda atrás, vem o homem o negro e por último a mulher negra. A defasagem salarial entre o homem branco e a mulher negra pode chegar a números exorbitantes. A intenção deste artigo, em especial, não é procurar culpados, mas tão somente desmistificar a idéia de que a convivência entre negros e brancos se dá de maneira igualitária onde ambos desfrutam dos mesmos deveres e direitos. Ora, se todos têm o direito de ir e vir, por que o homem negro é quem sempre é abordado pela policia?
A idéia de que vivemos em uma democracia racial não passa de uma falácia, e uma falácia neoliberal legitimadora de distorções históricas. O interessante é notar como esse sistema é extremamente contraditório em seu discurso. Tomemos um exemplo ao acaso: é fato consensual que há uma diferença gritante entre o percentual de negros e brancos nas universidades públicas e essa diferença remonta desde muito tempo atrás, desde o momento que o primeiro negro pisou o solo tupiniquim como um escravo, privado de qualquer direito. Privado até da sua condição de homem, sendo tratado com uma peça. Ora, mas estamos em uma democracia racial, vamos ao plenário e à câmara requerer que sejam reservadas vagas nas universidades até que essa distorção seja corrigida. Democracia... Cadê você? Você ainda está aí? Não, não está. A democracia racial só existe desde que mantenha tudo exatamente como está, a partir do momento em que há a proposição de correção das deformidades históricas, essa “democracia” se esvai. Afinal, como diriam os mais antigos: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
A discriminação velada vai desde expressões pejorativas do tipo: “a coisa ta preta”; “o mercado negro” dentre outras (não é engraçado não haver expressões desse tipo com a cor branca? Mais: qual a cor da pomba que simboliza a paz e qual a cor do gato que simboliza o azar?), passando pela necessidade da criação de uma lei que obriga que em comerciais televisivos de cada cinco atores pelos menos um seja negro (nem direi que a lei não é cumprida, apenas sugiro dois exemplos: prestem atenção nos comerciais da Vivo e da Skol), e finalmente desembocando em falas que sugerem que “negros, têm preconceitos contra si próprio”. O chamam de “preconceito contra si próprio” é na verdade INTROJECÇÃO. Ora, o menino negro cresce ouvindo expressões que deterioram a sua cor; liga a televisão e assiste programas em que todos os apresentadores são brancos; as crianças juntas aos apresentadores também são brancas. A introjecção não é algo voluntário e/ou deliberado é originária da formação no seio social. Seio esse que é hostil à sua cor, que lhe impõem se esforçar mais e ganhar menos. Tenho uma proposta: deveríamos mudar o nome de Dia da Consciência Negra para dia da Consciência Branca. Seria o dia nacional de acordar pra vida e ver que esses vícios de linguagens perpetuam uma a idéia de que o preto é ruim e o branco é bom. Teriam consciência que a respeito da necessidade das cotas ÉTNICAS como uma medida de médio prazo, afim de sanar a disparidade notória, nas universidades. Seria o dia também, de se perceber que politicamente incorreto é chamar de “moreninho” e não de “negro”, e que a África não é um país, é, antes, um continente que abarca tantos países quanto culturas. Logo, não é possível tratá-la como um bloco homogênico, pois ela não é. E por fim, que se entenda de uma vez por todas que a única raça que existe - respeitando as particularidade de cada etnia - é a RAÇA HUMANA.
O pai daquela colega ao propor-lhe que estudasse mais pelo fato de ela ser negra, talvez o tenha feito pelo reflexo da introjecção, mas talvez por já ter experiência o suficiente para perceber que a sua cor lhe pesava. E esse peso que ela carregaria para o resto da vida lhe traria vários infortúnios, mesmo ela vivendo em uma “democracia racial”. Por saber que sua filha talvez fosse ganhar pouco por ser mulher e menos ainda por ser uma mulher negra. Ao ter essa conversa com ela me lembrei do filme À Espera da Felicidade. Mais especificamente no quando o personagem principal, vivido por Will Smith, tinha conseguido um estágio e se transformara no “menino de recados” do orientador: era ele quem ia buscar o café, era ele quem ia manobrar o carro. Era o único que tinha a necessidade de trabalhar, tinha que fazer a atividade duas vezes melhor além, é claro, de ser o único negro. Pode ser que o pai da referida colega tenha assistido esse filme (acredito que não) e se identificado. Mas, infelizmente, ele ainda está certo: ainda é necessário que estudemos duas vezes mais, pois o peso ainda se faz sentir.

Fraternalmente dedicado à Arilene Soares.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um Partido Não-Governamental: como é possível?



 Por André Andrde

 Por que a subversão deve ser tão barulhenta e espalhafatosa se a opressão age silenciosamente em nosso meio?

Depois de ter feito uma breve introdução fundamentando o porquê de um partido não-governamental (vide Excerto sobre o Partido Não-Governamental), o PNG, pretendo reafirmas as bases que sustentam tais idéias do partido articulando suas propostas com possíveis ações concretas. A práxis partidária se daria inicialmente num contexto escolar sobre a tutela dos professores que seriam os primeiros militantes do PNG. Tendo tal preceito em voga, faz-se necessário o uso de uma pedagogia crítica que combine a ideologia do partido, a emancipação[1] do ser a partir do conhecer, com a militância conjunta dos partidários nas escolas.
O preceito crucial que vai dar ao PNG toda a sua forma e característica peculiar é a concepção do voluntarismo. O agir deve se pautar em ações antiutilitaristas. Logo se percebe no contexto escolar a des-motivação dos professores pelo fato de vivenciar o menosprezo que o Estado tem para com as Escolas. Acontece que esta desmotivação é gerada justamente por conta de conceber que a mudança somente será possível quando o Poder Público tomar providências sérias quanto aos problemas da Educação. Essa forma de ver a política torna inativo agentes que detém determinadas características que podem transformar a realidade. Os professores formam uma classe trabalhadora esclarecida cuja profissão é transformar o indivíduo que não detinha certos saberes e que agora os conhecendo, agirá de forma diferente do qual agia (é valido salienta a troca de saberes que provém não só por parte dos professores, mas também de seu público estudantil, mas falar disso nesse texto é demasiado longo, deixarei a discussão para uma próxima oportunidade).
Esperar a motivação por parte das políticas públicas é um investimento de tempo muito caro e pouco satisfatório. Existe ainda a questão de que a classe docente é uma classe desunida, o que é observável em todo tipo de classe trabalhadora, em todo tipo de agrupamento humano. Quero mostrar com esses argumentos que não estou deslocado da realidade, que não estou “elucubrando”, e por isso mesmo, não transporemos essas dificuldades sem agirmos em convenção. Um partido não vem diminuir as diferenças, ao contrário, deve-se fazer a defesa das mesmas, mas o que se pretende com tal são ações convencionalizadas, inscritas num sentido de mudança. Se em todas as diferenças acharmos a ambição da transformação da realidade que está posta, já encontramos a convenção-alicerce de nosso partido.
O sujeito que integra o PNG deve se resumir a uma só característica: mártir. A má-remuneração dos professores, as limitações físicas e materiais do espaço escolar, as rixas políticas (no caso policys) infiltradas nas escolas dentre outros problemas vivenciados no cotidiano escolar não podem se tornar motivos para o enfraquecimento do movimento engajado proposto pelo PNG. As reuniões do partido serão espaços abertos para discussões dos problemas enfrentados, resultados alcançados, novas proposições para determinadas ações. A coesão do partido se fundará no grupo, e concomitante a isso, no ideal basilar: a emancipação do estudante a partir da práxis docente. Formulações de pedagogias radicalizantes serão prerrogativas que trarão a inovação para o agir docente combinado-se assim com a proposta de uma educação libertária. As salas de aula devem se transformar em lugares de micro-revoluções localizadas nas mentes dos seres pensantes.
Bem, fico com a sensação de que escrevi muito e disse pouco, mas é porque o que quero justamente passar se resume a três frases. Não agiremos na realidade transformando-a sem essa concepção de que podemos politizar nossas ações independente das políticas de pleito eleitoreiro. Essa práxis transformadora somente se dará aliada a uma motivação voluntarista. E a idéia mais implícita e expressa na epígrafe: a opressão somente será combatida se usufruirmos de seu mesmo (e eficiente) método: o silêncio.

P.S.: Peço perdão aos leitores e leitoras pelo fato de não ter postado o texto da semana passada, pois tive de viajar, sendo este o mesmo motivo do panoptiqueiro Humberto Rodrigo e aproveito para agradecer as visitas que aumentaram nas últimas semanas, merci.


[1] Emancipar no sentido de se libertar das amarras que aprisionam os seres humanos a um obscurantismo irracional, como no conhecido mito da caverna de Platão, e não no sentido de liberdade, discussão esta mais complexa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Preocupação de um Pai

Por Jairo Trindade

Alô Homem Livre

Li hj seu artigo sobre o fim dos partidos e
lhe digo que foi o que menos gostei de
todos os seus posts.
Achei um pouco confuso, inclusive quando
cita o exemplo da eleição para o senado,
situação que não pode existir pois não há
voto de legenda para tal cargo.
Mas o que mais me preocupou foi a idéia
em si de extinção das agremiações partidárias
que considero como um flerte com idéias
facistas e totalitárias e ao mesmo tempo uma
porta para o abuso do poder economico.

Os partidos políticos por errados que sejam,
são os canais por onde os grupos sociais podem
se manifestar politicamente e disputar o espaço
de poder.

A solução para os problemas da representação
política no Brasil passa, ao contrário, pelo
fortalecimento dos partidos. Hoje temos um
número excessivo de partidos, muitos dos quais
não têm programa e são meros balcões de
negociatas, podendo se fundir com outros
congêneres ou simplesmente deixar de existir
sem qualquer prejuizo para o processo.

No entanto, há que fortalecer os partidos ideológicos e
representativos de seus segmentos, reforçando
a exigencia de fidelidade partidária. Por isso
é importante que o mandato pertença ao partido,
para que os candidatos não se utilizem da sigla
de acordo com as suas conveniencias.

É mais do que necessário discutir a reforma politica,
refletindo sobre o voto distrital e o financiamento
público de campanhas.


Chega, senão vou acabar ficando confuso também.

Pensar é uma coisa delicada e demanda tempo e
paciencia. Se debruce mais amiude sobre o quadro
político nacional.

Outra coisa: seu modo de pensar está pendendo
demais para a direita e suas idéias anti-democráticas.
Cuidado.

PS¹- Jairo Trindade é pai do blogueiro Humberto Rodrigo.
PS²- A crítica se refere ao texto Ensaio Sobre a Extinção dos Partidos.

domingo, 14 de novembro de 2010

DROGAS: POR QUE (PORQUE) NÃO LEGALIZAR?!

Por Humberto Rodrigo


Um debate muito polêmico voltou ao cenário midiático, recentemente, juntamente às eleições legislativas nos Estados Unidos. A questão da legalização das drogas. Muitos vêem na legalização uma maneira de controle dos usuários e até mesmo uma forma de coibir o tráfico de drogas. Não é a opinião deste blogueiro. Por mais incrível que pareça talvez a legalização das drogas (nas condições atuais) trouxesse mais dispêndio na relação custo/beneficio, do que o seu atual estágio: criminalizada. A discussão a respeito das drogas não é coisa recente: é possível localizá-lo pelos menos desde os anos 60 e 70, nos movimentos de contracultura. No entanto, a criminalização ainda é a medida mais eficaz. Obviamente que todo debate é sempre bastante enriquecedor, mas quando se trata de uma questão tão complicada onde é notória a falta de preparo estrutural para uma possível legalização, essa disputa se torna caduca.
Sem dúvidas que se houver uma legalização dos entorpecentes, haverá certos ganhos (principalmente financeiros), uma vez que a droga será estatal (ou privatizada, porém sob tutela estatal) e os lucros serão vindouros. Mas isso não acabará com o tráfico, talvez até o mantenha em uma zona de conforto relativamente estável. Explico: vejamos a indústria fonográfica: é uma indústria legal, formalizada, que paga tributos ao Estado. Mas o fato de existir essa indústria legalizada não impede em absolutamente nada que a pirataria cresça vertiginosamente. Dados apontam que em 2009 da quantidade total de cd’s e dvd’s vendidos no Brasil, 51% foi efetuado pela indústria pirata e 49% pelos grandes selos. A probabilidade de esse cenário se repetir é significativamente grande. Justifico: não restam dúvidas de que o que faz as pessoas migrarem para a pirataria é o preço mais atrativo. As gravadoras apontam os altos impostos como o fator preponderante para o elevado preço dos cd’s e dvd’s. Ora, quem se dispusesse a produzir uma droga legal, também enfrentaria essa mesma carga tributária, logo, é de se imaginar que a vendagem no morro ainda teria o seu lugar cativo, assim como nas praças (no caso da fonografia) também o tem.
Mas esqueçamos um pouco o paralelo com a indústria fonográfica e admitamos que por hora que as drogas foram legalizadas. Ainda assim, por mais contraditório que pareça, eu diria que a legalização ajudaria o tráfico de drogas a se manter/aumentar. Certamente com a legalização haveria uma cota máxima para cada usuário. Suponhamos que esta cota seja de 15g semanais. Isso faria com que os traficantes abandonassem o transporte maciço da droga, e passasse a investir no transporte de pequenas quantidades. Há quem diga que a quantidade é mínima, e que o transporte de uma quantidade significativa demoraria muito. É verdade, mas se considerarmos que o exército do crime é vasto, talvez essa demora fosse um pouco reduzida, afora o fato de que o papel dos chamados “mulas” ganharia uma importância um pouco maior. Mais: no momento de recrutá-las o discurso dos traficantes seria exatamente o de que não haveria problema algum, uma vez que a compra e a quantidade que estava sendo transportada era dentro da lei. Por mais irônico que pareça, seria o tráfico se utilizando da lei para se manter à margem da lei. Hão de argumentar que haveria um cadastro com os dados dos usuários. Sim, esse cadastro haveria pra a compra legal. E a compra ilegal? A polícia teria a informação de que até 15g (usando do exemplo anterior) seria passível de ser liberado: todas as “mulas” andariam com apenas 15g, logo não haveria como separar joio do trigo. Criaríamos, sim, mais um problema para a polícia. Em um suspiro de resistência, poderia haver quem sugerisse uma espécie de selo para distinguir a legal da ilegal. Ora, existe clone de cartão, de dinheiro, de documento, de carro..., clonar um selo, para o crime organizado, seria brincadeira de criança.
Das teorias defendendo a descriminalização das drogas, a que mais me chamou a atenção foi a da criação de uma droga mais “fraca”, uma “droga light”. Muita calma nessa hora. É de um pensamento muito raso e pueril. Ora, o cara que vai atrás de uma pedra de crack ele não está afim de um torpor “leve”, se o tivesse ele compraria um baseado e não uma pedra crack. Compraria até mesmo alguns gramas de cocaína, que nada mais é que o crack menos denso, para ficar mais claro. Então por favor, sejamos razoáveis. Uma fórmula mais leve, definitivamente não será a solução. Isso sem contar que é bastante comum vermos que o público de um determinado produto começa a rejeitá-lo quando ele muda a sua fórmula, sendo bastante comum a venda das fórmulas antiga e nova. Elas co-existem. Era o que veríamos no caso dos entorpecentes.
Não creio que no Brasil temos uma estrutura o suficiente para admitirmos a legalização de entorpecentes. Acho, sim, que a legalização teria um valor prático (para ser bem utilitarista) muito pequeno em relação aos infortúnios que traria tanto ao Estado, quanto à polícia. A legalização é uma questão que envolve não apenas segurança pública, mas também saúde pública, e até mesmo educação. Por que não legalizar as drogas? Porque não temos uma estrutura adequada; Porque sofremos de uma grave crise nas segurança e saúde públicas; Porque não temos uma educação adequada...  Então, eu voto NÃO. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Lagoa Encantada, o Poeta Desencantado e a Luta de Classes


Por André Andrade



A Lagoa Encantada é um desses lugares escondidos que guarda uma imensa beleza natural em seu interior. Beleza que vislumbra os olhos de quem atravessa (pela primeira vez) um ramal de barro batido ladeado por mata (atlântica) e faz pouco caso do que o espera. Um pedaço do paraíso esquecido, habitado por uma população carente que em sua maior parte depende da Lagoa, seja através da pesca ou do turismo, para sobreviver. Quem nos alerta sobre o pedido de socorro pelo qual a Lagoa clama é seu ilustre morador, o Poeta. Em seu barco, onde trabalha fazendo o translado de turistas para as ainda mais escondidas cachoeiras encantadoras, Poeta dá uma aula sobre o materialismo histórico na prática, talvez sem saber. A lagoa, encantadoramente o tomou como sua porta-voz.

Situada na cidade de Ilhéus (outro paraíso escondido) no sentido Norte, ao adentrar no ramal que indica o acesso à Lagoa Encantada, nos deparamos com um povoado e a Lagoa, duas personagens que chamam a atenção. O povoado nos passa uma imagem de carência, não tanto pela condição financeira dos moradores que se pode perceber ao visitar a Escola ali inserida, pelos estudantes que a compõem e as dificuldades econômicas que tornam difíceis a luta pela escolarização dos mesmos. A carência que pode ser melhor notável em um dia de visita à comunidade da Lagoa é a de Políticas Públicas. É evidente a situação de abandono e descaso que a Prefeitura de Ilhéus tem para com os Lagoenses. E não há prova maior do que a relatada pelo seu morador mais enlevado da comunidade, o Poeta. Segundo o mesmo, nesse ano ocorreu de eles ficarem confinados por um mês no povoado, sem condições de saída por conta das chuvas que tornam a estrada de barro intransponível. Nenhum ônibus entrava ou saia. Pescadores não puderam ir vender seus peixes nas feiras, estudantes ficaram sem poder ir a Escola, pois aqueles que já estão no ensino médio têm de ir para o meio urbano, fora o turismo que parou!

O Poeta reclama do esquecimento a qual foram entregues. No caso da estrada, o problema poderia ser amenizado espalhando cascalho pela pista, facilitando assim o acesso à Lagoa. Porém, Poeta já se desiludiu com tais iniciativas. Dono de um restaurante e dois barcos, orgulha-se de ter conseguido tudo isso com esforços de seu próprio trabalho, frutos do “suor sagrado do seu rosto”, como já disse outro poeta. Desiludido não porque fraquejou ou porque nunca lutou. Poeta relata que sempre esteve a frente de reivindicações que trouxessem melhorias para a sua comunidade e para a Lagoa. Lutou por programas que qualificassem os residentes para assistência aos turistas, incentivos para instrução dos pescadores, cuja falta de conhecimento (da probabilidade de extinção do pescado) os levam a praticar a pesca predatória, cujos peixes em fases de reprodução são capturados, impossibilitando o aumento dos cardumes, e a luta pela resolução do problema da estrada. E foi por exigir que sofreu perseguições, ameaça de morte, tendo sofrido o roubo do motor de um de seus barcos que foi encontrado enterrado próximo das redondezas. Foi ameaçado até por professores, segundo ele, universitários, quando denunciou o desmatamento ilegal da floresta que margeia a lagoa.

Ouviu da boca das próprias autoridades o desinteresse em investir na Lagoa Encantada. Diante disso, o Poeta perdeu as esperanças de ver alguma mobilização por parte do Poder Público para ajudar a comunidade lagoense. Faz agora dos versos, da arte de poetizar, uma forma de denunciar a calamitosa situação o qual se encontram. Nas estrofes de SOS Lagoa, aponta-se a imagem do homem que explora até as últimas conseqüências, a Lagoa que clama por socorro. A defesa do homem pela natureza é contrastada pelo repúdio do homem que se coloca contra a natureza. O Poeta sabe ouvir o langor da lagoa que descansa e chora a noite das crueldades sofridas ao dia. Só a alma compadecida de um poeta para entender a angústia da natureza. Poeta ainda teme as forças maiores que rondam a Lagoa cheia de interesses privacionistas. Ele teme chegar o dia em que o capital privado domine a localidade e expulse toda a comunidade lagoense de suas moradias e a Lagoa se transforme numa propriedade privada. Apesar de suas angústias, as deduções do Poeta são as mais prováveis de se acontecer, pois se explicitamente vemos o desinteresse do poder público em investir e cuidar do local, isso significa caminho livre para o capital privado se instalar e se apoderar desse patrimônio natural. Certa vez vi uma reportagem que falava de um projeto de infra-estrutura que havia sido apresentada à prefeitura de Ilhéus há dez anos por um engenheiro para a melhoria da Lagoa. A reportagem falava que depois de dez anos de insistência, o engenheiro resolveu apresentá-lo a certa empresa privada que não só aprovou a idéia como deu aval para o mesmo prosseguir no desenvolvimento do projeto. O desprezo do poder público oportuniza iniciativas privadas.

Mesmo sabendo dos problemas e das projeções nada agradáveis as quais a Lagoa Encantada pode estar destinada, Poeta desistiu de exigir, ao ver que sua vida estava sendo posta em perigo, pois tem duas filhas e uma esposa pra sustentar, e depois, percebeu que estava só nessa batalha pela melhoria da comunidade. Não é uma desilusão por covardia, é uma desilusão que prioriza a existência. Pergunto-me quantas pessoas que lutaram e morreram na revolução russa de 1917 não se desiludiram ou se revolveram debaixo da terra ao ver no que deram seus esforços: a ditadura de Stalin, suas atrocidades e perseguições. Em alguns minutos de travessia em seu barco, Poeta nos mostra como se dão os conflitos, os embates, as lutas da classe dos trabalhadora contra os interesses privados, (afinal, os desinteresses da instância pública deve ter seus motivos bem patrocinados) tudo isso na prática, e perto de nós. Poeta traduz as lamentações da Lagoa aos que a visitam, e pede socorro.


Foto panorâmica da Lagoa Encantada. Extraído de http://www.radar64.com/ler.php?doc=8058

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um Pouco de Humor

Por Humberto Rodrigo

Três empreiteiros foram chamados para uma licitação da Olimpíada Rio 2016: um japonês, um americano e um brasileiro.

- Faço por US$ 3 milhões – disse o japonês: Um pela mão-de-obra, um pelo material e  um para meu lucro.

- Faço por US$ 6 milhões – propôs o americano: Dois pela mão-de-obra, dois pelo material e dois para mim, mas garanto serviço de primeira!

- Faço por US$ 9 milhões – disse o brasileiro.

- Nove milhões ? Espantou-se o licitador. Por quê?

- Três para mim, três para você e três pro japonês fazer a obra.

- Negocio fechado!

Retirado de: http://blogdojuca.uol.com.br/2010/02/humor/

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Excerto sobre o Partido Não-Governamental

Por André Andrade
                                                                                           "...o governo é apenas uma conveniência...e todos os governos, por vezes, são inconvenientes..."
Thoreau, A desobediência Civil.

P.S. Adiantado: Esse texto é de cunho normativo.


 Entendo que há diversas formas de agir politicamente, e não apenas pelas vias, digamos, eleitorais, no qual direcionamos representantes para as câmaras legislativas, senado e centros executivos. Existem alternativas de manifestação política sem necessidade de enquadramento em um sistema político já corroído pelos jogos do poder. A escola é o grande exemplo de lugar onde se pode exercer esse tipo de ação. Contudo, deve-se promover a organização de um partido que não alimente nenhuma intenção de se contaminar com o pleito eleitoreiro.

Um partido político antes de tudo é uma seita ideológica. Formula-se um ideal fundante e daí se desdobram todas as suas premissas, podendo estas pender pra uma perspectiva esquerdista ou direitista, de acordo com a convenção de idéias a que chegam os partidários de tal partido. Figuração bastante forte em nosso país, esse sentido de ser da esquerda ou da direita,aforismos importados da revolução francesa. Acontece que num sistema político pluripartidarista, no qual se tem uma série de barganhas, alianças partidárias (interesseiras), formações de grupos de coalizão, esses sentidos perdem o sentido.

Não existe mais esquerda ou direita. O que existe são partidos da oposição e partido do governo e aliados. Em seus projetos políticos, lá no papel, podemos encontrar formulações pelos que prezem pelas mudanças, reformas, ou aqueles que preferem uma otimização do que está posto, porém, todos se curvarão ao fenômeno da “estabilidade” social. Entre discursos e ações, há um vácuo enorme.

No entanto, ao dizer estas coisas, quero fundamentar a idéia de um partido não-governamental. Os estadunidenses tiveram a grande sacada e a incorporaram em seu vocabulário. Eles referem à Policy àquele tipo de políticas públicas de responsabilidades do Estado, e à Politics o tipo de política desempenhada por nós, indivíduos, enquanto atores sociais, com o intuito de livre expressão, o que é altamente condescendente numa democracia. Nós, brasileiros, desprezamos esse último conceito. Enxergamos a política apenas como pleito eleitoreiro, a política como meio para se eleger e viver às custas do poder público, além de servir como catarse de sofrimento do povo (“corja de ladrão”, “corruptos”...e outras coisas que não se podem por aqui).

Quando se pensa num partido não-governamental, se pensa nas Politics no qual nós enquanto indivíduos que detém determinadas instâncias institucionais, podemos agir de acordo com nossa ideologia (aqui no sentido de conjunto de idéias convencionadas entre os partidários) comungada entre os nossos comuns. Então, esclareçamos o projeto de partido não-governamental começando pelo fato dele ter de ser não-governamental. Ora, o enquadramento sofrido pelos partidos ao ingressarem na Policy causam sua corrosão, pois terão de cederem, abrir mão de suas premissas para se integrarem a um sistema já estabelecido, acomodado, e com suas normas ditadas. Não é necessário eleger pessoas para que partidos se legitimem, e para que partidários virem políticos, aliás, no PNG, não se busca legitimação, se busca ação e transformação.

A ideologia do PNG se fundaria numa perspectiva critica de olhar a sociedade, de nos situarmos enquanto sujeitos sociais e de “conciencialização” das classes desfavorecidas para que a partir dessas reflexões se possam permitir mudanças de hábitos comuns que alienam essas classes, as mantendo na situação em que se encontram. O fato de ser um partido remete a idéia de organização, de ações centradas em determinados objetivos e em sincronia. Certo, porque não uma ONG ao invés de um partido? Primeiro que a idéia do partido não é se mostrar, mas também não é agir em clandestinidade, embora não precisa ninguém saber que existe um partido com idéias subversivas agindo em sala de aula. E porque não um movimento? Porque não tem uma causa fixa, como a luta pela terra, por casa, mas tem objetivos que é esclarecer, “conciencializar” as pessoas no sentido de formar sujeitos críticos de seus contextos e questionadores de certos fatos tidos como naturais em seu meio, o que não deixa de ir ao encontro dos interesses dos movimentos sociais. Lembro de um movimento que surgiu a um tempinho atrás chamado “Cansei!”, no qual as pessoas apareceram com narizes de palhaço e tal. A lógica que motivou esse movimento será a nossa lógica, no entanto, não será intermitente, será constante e politizado e infiltrada na educação.

A escola pública seria o lugar central de ação do partido. Primeiro porque é a instituição no qual se produzem seres passivos que formam em maioria a nossa sociedade. O Estado impõe certos cerceamentos que impedem a escola de desenvolverem projetos que beneficiem seu público, e conspiratoriamente falando, o mesmo não quer que as classes subalternas se esclareçam.

Vou encerrar por aqui e continuarei no próximo post para não se tornar massificante, mas quero esclarecer duas coisas. Não sou anarquista e nem anti-governista, penso apenas que ações voluntaristas organizadas agindo sincronicamente em salas de aulas promovendo profícuos debates com jovens contribuirão para a formação de seres atuantes em sociedade. É o Estado agindo (e coagindo) de uma ponta, e nós agindo da outra ponta no qual os raios de governabilidade reluzem somente alguns feixes de luzes. E a outra questão é pra quem desdenhar da idéia do PNG, ninguém desdenha da TV que é um instrumento alienador que age em silêncio nos lares das famílias, e consegue eficientemente cumprir o seu papel de acomodar as classes desfavorecidas em seu lugar de miséria, mantendo-os manipuláveis. Pra mim, a impossibilidade é uma Utopia (essa sim no sentido de ser inatingível).