Por Humberto Rodrigo
Como é de conhecimento geral da população, é fato que o sistema carcerário brasileiro está chegando a um estágio de estrangulamento singular. A população carcerária no Brasil gira em torno de 500 mil detentos, sendo que desses, mais da metade é reincidente em delitos. Grupos de direitos humanos reivindicam a melhoria das condições dos internos. Já para a população, quanto pior forem as condições de vida dos presidiários pior para eles, afinal se estão lá é porque de fato merecem estar. Esse embate sucinta a questão a respeito da função social dos presídios: afinal presídio é para ressocializar ou punir?
Celas apertadas, comida de péssima qualidade e tratamento da pior espécie. Essa é a realidade da imensa maioria dos presídios brasileiros. Sob essa condição os grupos de direitos humanos alegam que o detento ao invés de aprender a lição, sai ainda pior do que entrou. O tratamento dado aos condenados (apesar de em teoria sim, na prática) não diferencia o ladrão de supermercado do ladrão de banco: ambos ocupam o mesmo espaço. A falta de uma divisão, que realmente seja efetiva, tende mais para corromper o primeiro do que para redimir segundo. O argumento é que o convívio com os presos de alta periculosidade aliado à falta de um programa que ressocialize o detento faria com que o ladrão “comum” cedesse aos encantos de uma vida criminosa de alto padrão. Logo, o mais importante seria que se criasse mecanismos que reeducassem esse detento ao convívio social, fazendo com que o mesmo optasse por uma vida longe dos crimes. No outro extremo dessa linha está aqueles que defendem que preso é preso e ponto final. Se eles estão lá, é porque fizeram por merecer. Não chegam ao extremo de defender que se deveria trancá-los e deixá-los à própria sorte, sugestão do “Coronel Nascimento”. Porém é uma situação no mínimo indignante vermos que em algumas penitenciárias os com finados têm regalias tipo spa’s, oficinas onde a cada três dias trabalhados é reduzido um dia de sua pena e oficinas de capacitação de mão-de-obra. Como dizer à família que teve uma perda irreparável, que o seu algoz tem recebido benefícios como esses? Benefícios tais que às vezes nos trazem a sensação de que é mais vantagem estar preso do que solto (crianças, desconsiderem isso).
Tendo por base esse pano de fundo ressurge a questão, mas dessa vez levando em conta o caráter da realidade brasileira: Afinal, qual a função social do presídio: ressocializar o detento ou puni-lo? Ressocializar? Ora, o processo de ressocialização passa pela a idéia de reeducação, e reeducar passa pela idéia de informar. Então por que não termos televisão em casa sela? Afinal, bem ou mal, a televisão ainda é o maior meio de informação do país. Ah, a função é de punir! ? Certo, então por que não adotarmos o sistema de prisão perpétua? Exclui-se a pena de 30 anos e vamos para o sistema prisão vitalícia e ainda ampliaremos a quantidade de solitárias. Aliado a isso, vamos cortar o banho de sol e reduzir a quantidade de visitas para apenas uma por mês, evitando assim, a completa animalização.
É de conhecimento popular o ditado que reza que “prevenir é melhor do que remediar”, e hoje se sabe que um detento custa ao Estado nada menos que dez vezes mais caro que um aluno. Por essa óptica, seria imensamente mais vantajoso vigiar (ressocializar) do que punir. O Estado agiria em duas frentes de investida: uma na educação de base, onde teria a função de trazer uma educação onde o aprendiz teria qualificação necessária para pleno desenvolvimento de carreira. A segunda frente seria nos presídios, com iniciativas que permitissem ao preso se readequar à sociedade se utilizando de mecanismos como oficinas de capacitação e complementação do ensino básico. No entanto isso não faria com que extinguisse a criminalidade. O crime, como já adiantara Durkheim, nunca deixará de existir. Mais: em certa medida ele é útil (isso mesmo, útil) à sociedade. Então o que fazer com os detentos que não se ressocializaram e aqueles praticantes de crimes hediondos? Deveria, então, o sistema penitenciário ter as duas funções? Saciaríamos o problema do que fazer com ex-presidiários que não conseguem empregos e voltam à vida criminosa, assim como ficaríamos, também, com o sentimento de justiça tão esquecido nos dias de hoje. Há acuse de estar sendo bem funcionalista, entretanto, uma instituição tal qual uma penitenciária é uma autarquia funcionalista e como tal, tem na execução do seu papel social a sua excelência. Vigiar ou punir? Os dois!!!
Em tempo, peço perdão aos caros leitores pelo texto mea-boca. É meio como aquele jogador que estava em férias e precisa retomar o ritmo dá coisa. É que a pressão para postagem de um texto estava imensa não é mesmo..., ANDRÉ?!?!
Em tempo, peço perdão aos caros leitores pelo texto mea-boca. É meio como aquele jogador que estava em férias e precisa retomar o ritmo dá coisa. É que a pressão para postagem de um texto estava imensa não é mesmo..., ANDRÉ?!?!
Penso que ressocializar é a meta, mas punir é preciso. Penso também que no Brasil não existe sistema carcerário no conceito da palavra, o que existe é uma indústria que gera muito, muito dinheiro. Tendo grandes amigos a prestar anos e anos de serviço a Justiça, mas também conhecendo pessoas que por um motivo ou outro quebraram as regras da sociedade e foram parar atrás das grades, conversando com ambos os grupos não tive como chegar a outra conclusão que não fosse: presídio lotado dá LUCRO. (não para a sociedade) mas para o mercado do crime/ressocialização. o tema é complexo e não tenho formação culta para debater mais profundamente, mas enquanto humano, o raciocínio é inerente concordam.. a questão é simples: o trabalhador honesto, jamais -repito- JAMAIS alcança os objetivos financeiros que traçou em sua juventude/início de carreira. ele pode até chegar perto, mas em algum momento da vida terá de realizar que ou se adapta e aceita ou vive desiludido com a demora na condição alcançada. No Brasil ou nasce com a cama feita, ou faz a cama para a proxima geração. é uma regra e não tem jeito. Agora pensemos em matemática da mais simples.. um traficante de drogas, "trabalha" (investe em sua atividade, mesmo que criminosa) por 5-10 anos e retém um patrimônio de milhões. ele fez a cama da próxima geração, gostem ou não, é a realidade. ele tem $ para pagar a vida dentro do sistema carcerário, tem $ para pagar a corrupção no sistema jurídico, resumindo, tem banca de bem-nascido. em 30 anos ele sai, com menos de 75, cama feita e burro na sombra, filhos e netos na faculdade. Matemática simples, que um profissional honesto da construção civil nem sonha em raciocinar.
ResponderExcluirÉ uma indústria. dá lucro, e muito, de uma ponta a outra, sem excessões. só se ferra o ladrão de galinha, aquele que roubou por desespero. este não dá lucro, nem recebe. o subproduto desta indústria são os viciados ladrões de galinha. e não existe onde colocar essa gente, a não ser nos contêineres como fazem os capixabas. senão o prejuízo seria maior ainda para a sociedade.
Mas em catanduvas, o rango é melhor do que em muitos quartéis e refeitórios de tribunais. FATO.
(mas é só minha opinião -volto a afirmar não tenho canudos para falar com autoridade sobre o tema- não quero gerar polêmica, mas me chamou a atenção e resolvi opinar..)
Sou Sandro Brum, educador livre no Rio de Janeiro
Vlw!
Caro Sandro, entendo o seu ponto de vista, mas discordo de ti em dois pontos: quando diz que nunca um trabalhador alcançará o padrão que sonhou (sei que é EXTREMAMENTE difícil, mais achei você um pouco amargo na sua colocação). O outro ponto que discordei foi no tangente à "fazer a cama". Quando um traficante é preso, os seus bens são confiscados pela justiça (pelo menos assim que deveria ser), logo nem ele - quando for solto - nem os seus familiares podem usufruir do mesmo. Mas gostei bastante da frase: "No Brasil ou nasce com a cama feita, ou faz a cama para a próxima geração".
ResponderExcluirCaro colega, bom que vc gostou da frase de Sandro Brum, esse esquema de fazer a cama para a próxima geração é real, se não nascer com ela pronta vai ter que ralar para deixá-la prontinha para sua posteridade, uma conta simples. Honestidade precisa ser valorizada e como educadores devemos clamar e difundir isso, mas a própra neessidade de difundir esse princípio, já assinala que está distante de uma realidade justa. A colocação de Brum é meio amarga sim como vc disse, mas é extremamente pé no chão. Por isso, para o Brasil melhorar, sociologia já! rsrsrs
ResponderExcluirQue bom saber que o polêmico Humberto está de volta. Sempre com temáticas pertinentes e que não damos ligança ou não paramos para refletir a respeito, e no entanto, de fundamental importância estarmos abordando assuntos como este, tão imbuídos de ideias provenientes do senso comum, sem nenhum exercício reflexivo e que podem ser danosas para a sociedade.
ResponderExcluirQuanto a participação do Sandro Brum (felicito o carioca pela participação e aqui não precisa ter canudo para expressar suas opniões e as polêmicas, tão necessárias para nossas reflexões) ao meu ver, o que é colocado em evidência é a velha discussão do sofista que chega ao filósofo e pergunta: por que fazer o bem? E dizendo sofista, não quero dizer astuto, como se convenhou entender do significado, e sim daquelas pessoas que tendo uma vasta percepção da realidade coletiva e do indivíduo, sabem que caminhos tortuosos que levam aquilo que os seres humanos mais desejam serão muitíssimo tentadores, ao que ao filósofo, bastará responder que será um questão de consciência. Entendem? É uma questão milenar e eu chamaria de síntese da peleja humana.
Enfim, você falou dos contêineres e vi uma reportagem da caros amigos com a capa da Marilena Chauí, que fala dissso, aliás, da temática tratada pelo Humberto, e fiquei abismado com o fato de ainda existir tal prática segundo a reportagem. Me pergunto, o que é viver num container???? Enfim², recomendo a leitura a todos pq relatar ela aqui seria deixar de chamar isso de um comentário. Valeu Sandro e Maik pelas opinadas.
André Andrade
Obrigado!
ResponderExcluirque bom que gerou alguma reflexão rs.. estava com medo de me acharem um paranóico desses de teoria da conspiração..
elucidando, quando eu toquei no assunto das gerações posteriores já estava ali embutidoosentido de usar do próprio sistema corrupto para lavar o tal dinheiro sujo, porque o pai não paga, mas um padrinho pode pagar concorda..
sobre os contêineres, os vi em reportagem, mas pasmem, são de uso comumem algumas partesdo litoral no ES, onde os menores infratores passam o dia (é pintado, tem acabamento, logotipo, etc, mas ainda assim éum contêiner)
Verdade André, concordo plenamente contigo, aquela coisa moral x ética, o tema é bem terreno mas a discução é filosófica.. difícil a definição de "bem" numa sociedade que cada vez mais se acostuma a lutar por algo que não admite estar fascinada. O Brasileiro ama o dinheiro, mas odeia a ganância..
ou não?
Sandro Brum
Em recente matéria veiculada pelo Fantástico a situação de algumas detenções era lamentável: 20 presos onde só cabiam 8; convivência com ratos e até mesmo uma jaula humana. Definitivamente uma penitenciária não é um spa, mas é aquela questão: é dever de um governo gerir pela sua população. Ora, apesar de estarem presos, os detentos também não são população daquele governo? Acaso, também, ao tentar ressocializar este cidadão não seria um benefício tanto para ele próprio, quanto para a comunidade em geral?
ResponderExcluirObviamente que uma penitenciária não é um spa, mas tão somente punir não trará efeito prático substancial. Penso isso traçando um paralelo com aquela criança que o pai diz que não é pra fazer algo, ela vai e faz. O pai aplica-lhe um castigo, mas o castigo ao invés de servir como um lição cria, sim, uma rebeldia na criança. Por essa paralelo quero mostrar que não é o castigo, puro e simplesmente, que evitará que ela cometa novamente a infração, porque o castigo só será aplicado se o pai descobrir a infração e a idéia não é que ela oculte o "crime" e sim que não a cometa. Por isso a ressocialização é importante. Mas, assim como no caso da criança, é muito mais importante prevenir (nesse caso uma educação que funcione) do que remediar (que aqui seria a ressocialização de fato).
Humberto Rodrigo
Humberto, perfeita sua colocação o paralelo elucidou grande parte do meu raciocínio/posição pessoal onde ainda haviam sombras de dúvida. Digo isso pois acabei de perceber que trata-se de cultura da raiz, costumes históricos, ou, seja, moral. No final das contas, não é (hoje) imoral encarcerar sem ressocialização. Pode ser até fora da ética, mas aí é outra questão..
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