Por André Andrade
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry
Dando prosseguimento à problemática extraída da conclusão do texto anterior, trataremos agora desta delicada questão que é o respeito mútuo. Usando somente a palavra respeito, estaremos individualizando as ações humanas que se relacionam socialmente com outros seres humanos. Destarte, para que as pessoas ajam com respeito uma com as outras, é preciso que haja reciprocidade dos gestos de apreço que se estará imprimindo ao próximo. A mutualidade é que irá reforçar nossa motivação de agir respeitosamente com os outros.
As premissas dessa “lei” moral se desdobram em diversas formas: a violência gera violência, não deseje ao próximo o que você não quer para si, que advém da máxima muito usada pelo pensador inglês Thomas Hobbes, não faça ao próximo aquilo que você não gostaria que fizessem consigo. Tudo isso se traduz em que toda ação ofensiva que lançamos ao próximo tira de nós o direito de ser respeitado. E esses fundamentos são claramente observáveis desde a antiguidade como nos é representado pela Lei do talião, a base do código de Hamurabi, antigo rei babilônico. O olho por olho, dente por dente não nos passa a idéia somente de que os crimes cometidos pelas pessoas serão devolvidos da mesma forma como punição de seus atos. Quer acima de tudo evidenciar que o que é façamos de pior ao próximo será refletido para nós, de modo que assim se experimente o dissabor que nossa ação causou a outrem, ou seja, sintamos na pele. É o famoso ditado “o feitiço virou contra o feiticeiro” transformado numa lei jurídica.
Contudo, o que nos impele a respeitar o nosso próximo? Como respeitar convicções contrárias a nossas? Qual a garantia que temos de que nossas crenças serão respeitadas pelos outros assim como respeitamos as deles? E, qual o nosso interesse em respeitar as crenças alheias as nossas?
Opa, esta última reflexão-problema-pergunta deflagrou o que estava implícito nesta discussão acerca do respeito mútuo. Se concordarmos com a afirmação da última frase do primeiro parágrafo, devemos esclarecer nossa intencionalidade quanto à reciprocidade dos gestos condescendentes. Respeitamos os outros para que nos respeitem ou respeitamos porque é certo? A primeira assertiva denota o sentido de interesse, de que queremos em troca o respeito depositado a outrem, logo, estamos visando o eu, e não o nós. Já a segunda dá a intenção de gesto voluntário, ou seja, respeitar a outrem sem olhar a quem. É o embate da Utilidade fútil x Voluntarismo útil.
Para levarmos adiante as dúvidas exprimidas anteriormente, devemos levar em conta tais considerações. É lógico que nos sentiremos muito mais confortáveis de respeitarmos as convicções alheias às nossas se as nossas forem respeitadas. Entretanto, esta prerrogativa será lançada as favas (2ª vez que uso esse jargão..) quando as nossas crenças forem insultadas, caso sigamos o princípio utilitarista. É por isso que disse que a mutualidade é um REFORÇO, e não a força maior que gera a motivação do respeito recíproco.
O ser humano é um animal muito maleável (e tem gente que se sente insultado ao ser chamado de animal, pois o que nos diferencia dos outros bichos é o que nos deixa maleável). Por mais que ajamos de forma voluntária, nada nos garante que, ao sermos ofendidos, não acionemos o lado utilitarista e defendamos as nossas crenças colocando-as superiores às do ofensor. A fagulha de todos os conflitos se encontra nessa flexibilidade que traz a possibilidade de escolher ser útil ou voluntário quanto aos nossos gestos e ações.
Com isso, não direi que somos maus ou bons – direi que o mundo nos ensina a sermos utilitaristas, a responder da forma conforme somos atendidos. E que nossos valores (de todas as crenças e costumes) devem nos ensinar a sermos voluntários, para que nos reconheçamos nas outras crenças alheias as nossas, e aprendamos que nenhuma tem o direito de reclamar superioridade em detrimento de outras, pois todas trazem consigo suas verdades que são a ânsia do ser humano pela busca de verdades que não são certezas. Enfim, o respeito mútuo não vem de berço, provém da estima, conhecimento, educação.
O ser humano é um animal muito maleável (e tem gente que se sente insultado ao ser chamado de animal, pois o que nos diferencia dos outros bichos é o que nos deixa maleável)rsrsrsrs. Rapaz cuidado com a máxima "tomarei providências cabíveis"rsrsrs, excelente texto amigão!vc foi animalesco!!haha!
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