quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cordial vem de Colonial

Por André Andrade


“Somos um povo acolhedor”, “Somos um povo festivo, alegre”, somos um povo com uma forte mentalidade de colonizado!!! Sim, temos de estar sempre de braços abertos, sorrindo e sambando para os gringos e as gringas aqui se sentirem “acolhidos”. Insistimos na mesma e velha história: “- A nossa cidade é uma cidade que está sempre de portas abertas para acolher os visitantes”. Bem, entendo que uma cidade que se afirme assim deveria ter antes de tudo acolhido os seus pra depois abraçar os estranhos. Todavia, as praças ainda estão cheios de pessoas nascidas em sua própria terra natal sem experimentar essa cordialidade do povo brasileiro.
                O  intelectual que advogou sobre o homem cordial que é o brasileiro e seu livro mais conhecido, Raízes do Brasil, não teve a preocupação em analisar os rizomas que despontavam de suas raízes. Eu sei que dessa forma estaria pedindo muito, já que é um dos primeiros livros em que se preocupa em estudar e descrever aquela que seria a identidade de uma possível nação brasileira, para que usufruíssemos da unicidade brasílica, sentimento que faltava (e é claro, ainda falta) no Brasil de outrora. Não quero culpar o Sergio Buarque de Holanda por ter “inculcado” essa idéia da cordialidade do brasileiro, afinal, esse grande pensador brasileiro é um dos nossos melhores nomes para entendimento dessa complexa (e perplexa) história de nosso país. Contudo, ao falar do homem cordial como uma das grandes características identitárias do Brasil, ele está falando sim das Raízes do Brasil, mas de um Brasil Colônia, e não do Brasil enquanto projeto de país independente da exploração estrangeira, que é o que sua idéia de cordialidade, a meu ver, vem provar.
Repito que não pretendo estar aqui desprezando o trabalho hercúleo de se pensar e articular categorias identitárias que demonstrassem as raízes originariamente brasileiras, e desse modo, despertar não um chauvinismo (que a gente só vê quando a seleção de futebol joga), mas um patriotismo nacional, pois o que se via na virada do século XIX para o XX era um forte regionalismo imperando neste país continental. No entanto, entrevendo que a tese do Buarque de Holanda nos mostra que somos um povo de caracteres marcadamente colonizado, é de se pensar as causas que nos fazem ainda propagar essa noção da cordialidade, de cidade acolhedora. Será que foi uma idéia que colou e que hoje existe de forma oca? O que é a cordialidade em um sistema capitalista? Um mero bom dia???
Penso ser essa cordialidade de efeitos bastante maléficos para os estrangeiros que passam por aqui. Os mais ávidos acham que podem passar a mão em qualquer mulher e levar ela pra cama. Os mais complacentes acham que podem deixar seus utensílios na areia da praia enquanto vai comprar uma água de coco porque entre esse povo benevolente ninguém “mexeria” em suas coisas. Pior ainda para nós que temos que cordialmente (sic de soluço) temos nos curvar a toda a gringação e fingir nosso acolhimento para que se deixe por aqui pela terra brasilis seus dólares e euros.
Dizendo isso, não quero estar também afirmando que o brasileiro é o pior das espécies, mas justamente quero questionar isso: o grande mal que são as generalizações. O SBH começou um belo trabalho, pelas raízes, temos que continuar, seguindo agora pelos rizomas.

4 comentários:

  1. rsrsrsrs, por isso que o nome da cidade acaba no diminutivo? que é isso rapá, mas valeu vou linkar agora...faltou vc lá na reunião do PIBID, aliás faltou vc e um monte de gente! a próxima reunião é dia 26 de jan, uma quarta feira às 14h.

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  2. Quanto ao blog, tou tentando construí-lo agora, tava meio abandonado, mas já fiz meu trabalho em relação ao sociologia hoje, agora vou focar no "blogdomaik", bom que vc gostou e grato pela linkagem.

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  3. Lembrando que ser cordial é ser cortez. E ser cortez é fazer cortezias. E isso não é bom.
    Quem fazia no passado cortezia? A corte. E quem era a corte se não um bando de indivíduas que puxava o saco (cortezia) da família real para receber dela algo em troca, como por exemplo, viver da corte.

    Se cortez, na essência, é puxar saco para ganhar algo em troca

    Conheça meu blog http://cafecomsociologia.blogspot.com/

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  4. Essa é a sacada Cristiano, e a cortezia tem um preço muito caro para nós, pois vivemos numa espécie de colonialismo simbólico... e vou sim retribuir a visita e tomar um café rs.
    André Andrade

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