segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Geração ReStArT

Por André Andrade


No meu entender, o que Renato Russo queria dizer ao falar de uma geração coca-cola era justamente criticar a formação de uma futura geração moldada por uma concepção consumista importada dos USA que desde pequeno comem lixo industrial e comercial, só que chegaria o dia em que os filhos deles cuspiriam o lixo de volta em cima de vocês (imagino que esse “vocês” se referia aos Yankees). Contudo, esses filhos da revolução seriam os burgueses sem religião e o futuro da nação, ou seja, uma reprodução de todo esse ideário consumista. Entendo que a geração coca-cola a que se referia Renato Russo era uma baita de uma crítica a futura geração que se via no horizonte de fins dos anos 80 e começo dos 90. Uma profecia que o Russo só errou o nome, pois o tecnoteen engoliu o fenômeno coca-cola.

Conviria chamar essa geração coca-cola de geração RESTART, essa geração efervescente, animada, alegre, que começa a executar um monte de besteirol ao mesmo tempo e aí....trava!!! Mas isso não é tipo um @problema, pois eles têm um botão de reiniciar, de “restartar”, e aí começa tudo de novo, antes disso, dá um tempo pra garotada alisar o cabelo, baixar as calças até o meio da bun.. e agora sim, viva a nova cara da nação, um monte de balões coloridos (ou escuros, se preferir) cheios de nada!!!

São esses os filhos da revolução, burgueses que acham um público que gostam de fazer coraçõezinhos com a mão, que só prefere sentir, dizer e você, você, você (diacho de tanto você), e numa melancolia emocional, só falam do amor-ficar e que só ela/ele pode me salvar...e o conto de fadas está composto por um mundo que foge da realidade social brasileira. Some-se a esta nova ordem teen os romances de Stephenie Meyer que prega a ilusão de um amor incondicional e eterno, com a velha estratégia do triangulo amoroso pra ter um toque de intriga, e se está tudo muito colorido, existem outras opções como o estilo gótico de Fresno que como alertou o caro Humberto, em conteúdo não muda nada, só fica tudo meio nublado, e chato é que o lápis passado nos olhos sempre mancha a maquiagem que expressa a tristeza existencial de num ter o que fazer...opa, mensagem de erro, alguma coisa está incompatível com a realidade, algo não está condizendo com aquilo que a gente realmente vive, mas eis que surge o botão da nova geração, e tudo vira flores novamente.

Lobão expressou sua agonia com a nova geração ao dizer que era do tempo em que bandas como o Restart eram mais engajadas politicamente. Vamos dar um desconto e dizer que naquela época tinha-se a ditadura, abertura política e tudo mais, e deduz-se que em tempos de conflito toda forma de arte se engaja mais na crítica ao sistema opressor. Porém, essa galera está flutuando muito, balões que estão viajando em direção a atmosfera e é claro que a pressão vai aumentar e vai tudo estourar. Dá até pra relacionar isso com a agonia de Marx ao ver os pensadores alemães se deliciando na confortável atmosfera metafísica, e deixando de olhar o mundo concreto. Marx, alemão, tece uma crítica ferrenha aos seus compatriotas que enquanto ficam pairando nas nuvens, a França revoluciona sua estrutura social, modificando-se, a Inglaterra revoluciona sua estrutura econômica, modificando-se, e os alemães ficam parados submissos à ilusão metafísica-teológica esperando que a mudança venha dos céus.

No nosso caso, a geração Restart vem pregando uma realidade que não existe, letras de músicas que não retratam a nossa realidade, o nosso mundo em concretude, vivido (e sofrido) diariamente. Parece que eles estão assentados numa esfera superior, e são insensíveis aos nossos problemas sociais. Direciono minha crítica não só ao Restart, ao Fresno, como também ao Sertanejo que se propaga atualmente, pra não falar da linha do Arrocha tão bem representada pela Bahia. Do amor-sexo ao amor-ficar, essas letras falam de coisas que formam uma conjuntura que podemos denominá-la de geração RESTART.

Podemos até nos perguntar porque bandas dessa estirpe estão fazendo sucesso atualmente, e é claro que na resposta a essa pergunta se encontra o fator demanda de mercado. Mas, como é que uma geração que curtia MPB, Legião, Paralamas, Capital Inicial, pare (do verbo parir) uma geração que demanda novos gostos digamos, sem sentido nenhum? Não quero generalizar nada, e dizer que a geração anterior não teve suas bandas sem-noção, não se reprima, não se reprima, e me desculpem aos fãs destas bandas a qual classifico de sem-noção, me desculpem também a paródia com um certo professor, mas se juntar tudo num lugar e rumar uma bomba, não vai fazer diferença ( coloco as mãos no rosto pra não receber as pedradas). É porque simplesmente não consigo entender, (eu sei que um monte de menina vai chorar, choraram até quando os caras deram um bolo num show, imagine...) gosto é gosto, não se discute, mas atualmente no cenário nacional, não existe nenhuma banda no estilo pop/rock com letras voltadas para o mundo dos humanos (e as antigas que ainda existem já deram que tinham de dar) e o que me preocupa é que isto está se alastrando em todo o contexto literário, musical, virtual, e o que era pra ser efêmero, vive agora reiniciando, e travando.

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