sábado, 9 de abril de 2011

Ainda Bourdieu Vs Marx

Por Humberto Rodrigo

  De certa uma forma dando continuidade ao meu último texto  (http://panoptico-social.blogspot.com/2011/03/consciencia-de-classe-que-classe.html ) e ainda digerindo, em doses homeopáticas, a leitura de Bourdieu (O Poder Simbólico), me volto novamente à questão do poder e das lutas de classe. Só que desta vez não com o intento de discutir se é possível ou não uma luta unificada - de fato e de direito - das classes menos favorecidas ante as elites. Desta vez o intuito é analisar a relação de uma classe qualquer (seja ela a dos operários, das domésticas, dos jogadores de xadrez da esquina,...) com o líder sindicalista e o poder.
   Em "A Ideologia Alemã" Marx assinalou que todas as classes aspiram ao poder. Eu discordo do "velho" Marx, acho até que ele pode ter se equivocado. Fazendo uma decomposição das classes em sua unidade básica, o indivíduo, eu diria que a luta da classe não é pelo poder. Diria mais: na verdade eles são avessos ao poder. Estar no poder implica liderar, e para liderar é necessário tempo, disponibilidade, pulso, exercício intelectual, dentre outros, e é consenso geral que a imensa maioria das pessoas (nesse caso a classe em questão) não está disposta a todos esse "sacrifícios". Tudo que elas querem é uma vida razoavelmente boa. Uma vida normal, sossegada, com tempo para os seus filhos e para a sua casa; com o seu trabalho estável e a viagem de férias garantida, no final do ano; em uma expressão: desejam uma vida confortável (obviamente que terá aqueles que anseiam o poder, mas sim enquanto unidade básica, e não como classe constituída). E sob esse pano de fundo que entra em cena a figura do líder sindical.
  Quem é o líder sindical? Por vezes vemos que esse líder é o cara mais "estudado", o mais engajado no movimento, o que fala em nome da categoria. Em síntese: ele é a elite dos dominados. Bourdieu fazia referência a esse líder como "o porta-voz" do grupo. Em uma assembleia, ele é o grupo, se reveste do mesmo e o personifica. A figura do líder sindicalista ganha um status tal, que este é autorizado a falar pelo grupo. Pensemos, por exemplo, o líder do sindicato dos rodoviários. Agora pensemos na quantidade de pessoas que fazem parte dessa categoria e, consequentemente, quantas pessoas estão sendo representadas na pessoa do líder. Pensamos em quantas vozes estão se pronunciando quando ele abre a boca.
   Um outro ponto que merece ser observado é que na mesma medida que o líder é a voz do grupo, o grupo também pode vim a ser a voz do líder. Ora, como vimos, o líder é aquele cara que estudou mais, o que está na linha de frente da causa. É aquele que sabe a necessidade da classe. Munido do capital cultural (conhecimento), ele possui artifícios  o suficientes para exercer o poder de convencimento (este o mais legítimo poder simbólico) sobre os seus regidos.
   A relação classe X poder deve ser analisado tanto da vertente de baixo para cima, quanto de cima para baixo. É fato que muitos desejam o poder, entretanto vejo com certa cautela a idéia de que todas as classes anseiam o poder. Vejo na verdade, certa aversão ao mesmo.

PS¹- Não é intenção do texto, muito menos do blogueiro, deturpar o trabalho dos líderes sindicais, nem tampouco pó-los como meros manipuladores, e as classe regidas por eles como massa-de-manobra. Longe de generalizações, o texto tem por intuito abordar situações que, frequentemente, ocorrem no seio da sociedade.

PS²- Apesar de o título sugerir, nunca houve de fato algum tipo de "duelo" entre Pierre Bourdieu e Karl Marx. É bem verdade que existem alguns asteriscos do primeiro em relação ao segundo, mas nada que possa ser considerado como uma crítica ferrenha ou uma briga (pelo menos não no humilde conhecimento deste blogueiro). O que houve foi um confrontamento, por parte do blogueiro, das teorias de ambos.

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