segunda-feira, 21 de março de 2011

Consciência de Classe? Que Classe?

Por Humberto Rodrigo

“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes.”. É com essa célebre frase de se dá início ao primeiro capítulo de O Manifesto Comunista (obra mais de Marx que de Engels). As classes às quais Marx se refere são burguesia e proletariado. Estas, viveriam – ainda segundo o nosso autor – em constante tensão. Mas o que Marx parece não ter percebido é que a briga não é apenas entre burguesia e proletariado. A briga mais intensa, talvez, ocorre intraclasses.
A coerência do pensamento marxista (aqui usado referindo-se diretamente ao autor e não à grupos humanos que se alcunham como tal) é sem dúvidas fantástica: as relações de opressão apontadas por Marx criaram um grande mal estar na zona de conforto em que a burguesia se encontrava. A grande base de fundamentação de suas teorias baseava-se no conceito das lutas de classes. Mas Marx deixa a desejar é quanto a briga interna das classes. Explico: o “povo” não quer ser visto como “povo”. Bourdieu, em O Poder Simbólico, já nos traz a briga que cada classe tem para buscar a sua diferenciação. Enquanto aquele pensou a sociedade como bidimensional, dividindo-se apenas entre burguesia e proletariado, este a vê como uma organização multidimensional. Em Bourdieu já não se fala mais em classes sociais e sim em campo e sub-campos. Pela sua divisão dicotômica, Marx vê a classe social como algo uniforme onde todo o substrato burguês pensa única e exatamente de uma forma e por outro lado, o substrato proletariado, também pensaria de maneira uniforme. Não. Perdoem-me a redundância, mas se estamos falando de classes sociais, estamos falando de pessoas. Apesar de sua genialidade, o autor alemão não se deu conta de que os seres humanos são vaidosos por natureza, a diferenciação lhes dá um ar de superioridade, como o médico que não quer fazer o trabalho da enfermeira, nem esta o papel da técnica de enfermagem, apesar de as funções de todos eles serem relativamente próximas umas das outras. E nada mesma medida que isso se deve pela diferenciação profissional, tambpem se dá no campo do ganho simbólico do “nome” da profissão. Isso é possível ser localizado até programas lúdicos, como o próprio seriado Chaves onde o cenário é uma vila pobre na Cidade do México. Todos têm mais ou menos a mesma condição financeira, no entanto o discurso de Dona Florinda em referência à Seu Madruga é: “Vamos tesouro. Não se misture com essa gentalha.” Na concepção marxista tal fala não seria possível uma vez que ali é o proletariado falando para o proletariado. Marx vê o proletariado como um bloco uniforme, e aí está o seu erro.
A idéia de se fazer uma revolução à moda antiga bipartindo a sociedade entre os que têm os meios de produção e os que não têm, se mostra deveras superada. O conceito de habitus também proposto por Bourdieu é que mais se encaixa no que vemos hoje de sociedade. Não há sentido em dividir a sociedade em dois blocos, sendo que não há uniformidade entre eles. Proletariado não é só proletariado. O erro de Marx foi subestimar a capacidade de sonhar e de se diferenciar, existentes no seio da massa. Com pensamento tão heterogêneo e com uma diversidade de sub-campos ocupando o mesmo habitus de uma “classe” acho cada vez mais difícil ver a sugestão do Marx, ao final do livro, se cumprir: “Proletários de todo o mundo, uni-vos”.

Um comentário:

  1. Dando uma passadinha de prache no blog e com pressa me vi obrigado a dar uma paradinha para apoiar-te. Não posso compreender que o trabalhador aja passivamente mesmo sabendo de todos os empecilhos que se tem em uma mudança tanto da mentalidade quanto comportamental. De Marx aos dias atuais muita coisa mudou. O pedreiro virou mestre de obra ou engenheiro, comprou uma pequena fabrica e virou empreendedor. O modo ao qual Marx se reporta a massa sugere uma idéia de que o mais controla o menos e esse menos não exerce nenhuma influência sobre o mais.Cada individuo tem sua especificidade e o estudo do conjunto deles nao pode ficar a cabo de uma generalização bipolar.

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