sábado, 12 de março de 2011

As dores do Mundo

Por André Andrade


Meu olhar andarilho esbarra-se nas esquinas
Encontra pessoas acomodadas no chão e sob o teto estelar
Um olhar que caminha transpondo o que se vê
Mas não deixa de olhar para trás e se perguntar por quê?

Um palhaço sobe no ônibus e clama atenção
E com um sorriso forçado nos conta sua tristeza
Triste criatura que depende da caridade alheia
A pervesidade do acaso lhe impôs esta condição

As vezes, dá um aperto no coração
De pensar no infortúnio das pessoas
Do sofrimento diário, dessa esperança libertina
Que já não esconde o futuro sem novidade

Por vezes, há de endurecer o frágil coração
Para que não nos desesperemos
Diante desta situação que suga a lucidez ao fundo
Fundo de chão rachado, sertão no mundo

A terra de gente seca invoca aos céus
Por respostas de porque não ter o que comer
A ponto de retirar-se do solo batido
E encarar o asfalto áspero com os pés carcomidos

Um rapaz pede ajuda, uma intera para a graxa
Fazer brilhar os pés do cliente, curvar-se à vaidade
Para juntar dinheiro, e comprar uma sandália
Anda a cidade toda, fugindo da miséria
Que faz ponto nas esquinas
Ignorando a arrogância dos viventes
Perseguindo sem tréguas os que teima em sobreviver

Um pequenino a guiar um cego pede licença
Educado menino que demonstra a feitura das pessoas
Seres movidos por vaidade, repulsiva vaidade
Que só a terra há de aceitar sem regugitar.

Meu eu-lírico digladia-se com meu eu-mundo
Por que tem sido assim?
Por que Eros prevaleceu
E o Ágape empalideceu?

Essas dores errantes, atravessando nossos olhos
A todos instantes, perâmbulos afoitos
Sem achar a razão dessa situação dilacerante.

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