domingo, 5 de dezembro de 2010

ANALFABETISMO ELEITORAL

Por Humberto Rodrigo


O brasileiro é taxado de não se envolver politicamente. O desdém a respeito da questão eleitoral perpassa pelo total alheamento ao cenário eleitoral do país, alheamento esse que vai desde o esquecimento dos candidatos em votou na última eleição até o completo desconhecimento das políticas públicas que têm sido tomadas (ou não) em prol da comunidade em que este está inserido. Neste cenário a própria cobrança aos governantes se torna fragilizada uma vez que não está embasada de nenhuma concretude, pois sem o conhecimento do que ocorre ao redor, não nem há como utilizar o jargão “’o prefeito’ não faz nada além de roubar”. Acusações à parte existem vários exemplos de comunidades que saíram, por conta própria, em busca de melhorias para o seu próprio meio. Exemplos desse tipo nos remete tanto à questões referentes a idéias tais como o “partido não-governamental” como, por outro lado, à questões a respeito da (falta) consciência eleitoral.
Dizem às tantas que brasileiro não é um povo engajado politicamente, que não tem consciência política. A esses eu digo-lhes que estão sendo míopes. O problema não é nem que não têm consciência política, o problema é que não têm uma EDUCAÇÃO POLÍTICA. A coisa é pior, usando de um ditado popular: “o buraco é mais embaixo”. Não ter consciência é achar que apenas os representantes do executivo é que precisam ser escolhidos cuidadosamente, enquanto que os representantes do legislativo são escolhidos porque um amigo indicou ou ainda pior: são escolhidos no caminho à secção de votação. E isso acontece não nego. Entretanto, não ter uma educação política é não acompanhar, sequer, a propaganda eleitoral; não acompanhar os debates televisivos. É fato que os EUA simplesmente PARAM em dias de debates na “telinha”. Chegamos ao cume de eleger um presidente por ele ser “bonito” [sic]. Isso é o ápice do analfabetismo eleitoral. A falta de educação política é tão mais grave que a falta de consciência, na medida em que a falta de consciência está inserida na falta de educação, afinal como se ter uma consciência daquilo que não se conhece?
A falta de uma educação política flerta com idéias antidemocráticas. O pressuposto passa por uma questão elementar: afinal qual o sentido de dar o direito de votar a quem não saber exercê-lo? Acaso você se submeteria a uma operação com um médico que não sabe fazer cirurgias? Ou confiaria o seu sonho de construir a casa própria a um pedreiro que não sabe construir casas? Se é bem verdade que hoje temos uma opinião pública suficientemente forte e desenvolvida, capaz de se opor veementemente a uma investida de cerceamento da democracia, também o é que o panorama de analfabetismo eleitoral favorecem aos maus políticos: Platão há milênios atrás já se preocupava com a possibilidade de que o político com a melhor retórica assumisse o poder, em detrimento daquele que tivesse as melhores propostas. O povo poderia facilmente ser enganado por aquele candidato que possuía uma boa oratória, afinal, as massas são movidas pela emoção ficando a razão em segundo plano. O temor de Platão tem se tornado realidade: quanto menos uma população se engaja politicamente, mais o político com melhor retórica assume em lugar daquele que tem melhores propostas.
Em resposta a essa falta de comprometimento com a política, idéias como a de Alexis de Tocqueville vem como uma proposta plausível: Tocqueville (em A Democracia na América) sugeriu a criação de pequenos grupos de ação (vide textos anteriores a respeito dos Partidos Não-Governamentais). Exemplos como a concepção de uma liga comunitária nos bairros (que seria responsável tanto pela mobilização de necessidades a priori – como mutirão de limpeza ou em prol de um vizinho que está necessitando de ajuda – quanto pela cobrança junto às autoridades competentes) surgem como modelos bastante acessíveis. Em sua viagem aos Estados Unidos (isso em meados do século XIX), Tocquecille ficara espantado com a capacidade de mobilização politica dos estado-unidenses. Esse tipo de mobilização é tão reflexo da educação eleitoral como sua causa. Sim, porque a partir do momento que em se está lidando com a política diretamente, a tendência natural é o maior envolvimento. O analfabetismo, ao contrário, cria o ambiente ideal para a proliferação de políticas/políticos desastrosos e danosos para a sociedade. Tocqueville ficou a abismado com a capacidade de organização e a consciência política dos estado-unidenses. Eu também fiquei. 

3 comentários:

  1. Humberto, gostei do texto. mas, como ter uma consciencia politica se nem educação nós temos. digo educação como aquela onde aprendemos o B A BÁ, onde aprendemos a dividir a sala, a bola do futebol, o lapís, a borracha. Existem lugares pelo brasil, e principalmente na bahia que nao tem carteira para os garotos sentarem, nao tem merenda, giz, quadro, professor, tem algumas que nem sala tem. mas, o pior é que o pai dessas crianças nao estudaram e, portanto, acham que seus filhos nao precisarão disso. em suas casas nem sempre tem a comida na mesa e aí sao obrigados a ir pra roça com seus pais para trabalhar. pois é trabalhar para comer.essas crianças, as vezes, perdem seus sonhos e têm que "crescer" numa velocidade vertiginosa para trabalhar mais e mais. em suas casas tambem nao tem banheiro, piso, sofá, calçados e roupas. Em dois e dois anos aparece sempre politicos oferecendo uma cesta basica, um saco de cimento pra arrumar o piso e uma descarga e chuveiro para fazer o banheiro. Como nao votar em um politico que saciou sua fome (pelo menos por dois ou tres dias) e arrumou o piso da casa?Caro Humberto, quando essa gente vota nesses politicos nao acham que estao colocando na politica os seus representantes, eles acham que estao dando um emprego para um homem que quer ficar rico(roubando o dinheiro publico).para eles um politico que mente e rouba é normal e nao farão tanta diferença assim, caso volte daqui a quatro anos. Como essa gente nao tem conciencia politica, entao nao se candidatarão, assim algum espertalhao se aproveitará disso e conseguirá lograr o "cargo". já que pagam seus votos nao têm "nenhuma" obrigação de mudar a realidade dignificando através da educação, pois educação promove libertação e entendimento. isso é muito perigoso!!

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  2. te convido a entrar em meu blog:
    afiguranapalavra.blogspot.com.

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  3. Caro Alisson, muito bem estruturado o seu comentário. Concordo contigo, principalmente, ao falar daqueles que cedem seu voto em troca de uma cesta básica, por exemplo. É por isso que é a COMPRA de votos que é punida, e não a sua VENDA. Afinal, como punir aquele que não tem comida em casa e vê a possibilidade de tê-la por duas semanas que seja? Estava preparando um texto que seria as causas do analfabetismo.
    No entanto, a crítica tem que ser tecida, caso contrário, a coisa entrará em um eterno ciclo: pessoas carentes <-> venda/compra de votos. Sem crítica haverá, sim, uma perpetuação desse ciclo.

    Humberto Rodrigo

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