Por Humberto Rodrigo
O mundo, isso desde tempos do pós-guerra, foi polarizado entre uma metade capitalista e outra metade socialista, como se essa dicotomia fosse a única forma de se reger uma nação sócio-economicamente. Ortodoxos de ambos os lados pregam a supremacia do seu modelo e, mais que isso, a fatalidade da decadência do seu antagônico. Não vejo utilidade alguma nessa guerra que apenas gera uma segmentação burra do mundo. Como diria Jack, o Estripador: “vamos por partes”.
O socialismo é, para uma gama da sociedade, o modelo de vida mais justo que possibilitaria à todos um mesmo padrão de vida. Discordo veementemente disso. Grosso modo a idéia básica do sistema socialista é manter uma igualdade de classes. Na verdade, se há uma “igualdade de classes” então não existem mais classes, há uma supressão dessas, mas essa não é a questão, o fato é: se o socialismo pretendia criar uma classe única, então parabéns: ele conseguiu. Pois, incrivelmente, em todos os países em que se adotou o modelo socialista se viu o mesmo fenômeno: o surgimento de um ditador e uma classe única: uma classe de miseráveis. Então palmas, de fato eles cumpriram com a proposta, afinal se a idéia era que todos vivessem no mesmo padrão, essa idéia foi atingida. Não me venham pra cá falar que se isso se deu foi por conta de que os ditadores que assumiram o poder não entenderam o que Marx queria falar, por que isso me soa como hipocrisia e por dois motivos: 1º- Se eles não entenderam o que Marx falou, é uma coincidência muito grande que em 100% dos países que adotaram o modelo socialista/comunista, tenha acontecido rigorosamente a mesma fórmula: golpe de estado; surgimento de uma figura forte no poder; classe de miseráveis e 2º- Ainda, que vocês insistam em admitir a idéia da “coincidência”, há de se lembrar que, lendo a bibliografia inteira de Marx, em momento algum ele fala o que deve ser feito nos pós-revolução. O pensamento dele se “limita” até a revolução. E mais, na "bíblia" de todo pretenso comunista (O Manifesto Comunista), ele diz explicitamente que é necessário se instaurar a “ditadura do proletariado”. Propositalmente, não postarei aqui página (apesar de estar com ela em mãos), pois você, meu caro leitor comunista, tem obrigação de saber a bíblia de cor. Então temos o seguinte cenário: 1- Toda vez que o comunismo se instaurou, houve uma classe única: uma classe de miseráveis; 2- Em, rigorosamente todos os casos, foi um ditador quem assumiu o poder; e 3- O próprio Marx admitia a necessidade de se instaurar uma ditadura do proletariado. E então, será mera coincidência, mesmo, ou será que é algo superior a uma simples confluência dos fatos?
A crítica que se faz aqui, não é a Karl Marx. Este foi genial na sua observância da sociedade, na elaboração do conceito de mais-valia e ao demonstrar como a burguesia se fez burguesia: pela exploração do capital e, mais que isso, pela exploração do homem. O que se critica aqui é o que se tem feito sob o codinome “socialismo”. O que se vê é um sistema que vil que cria trabalhadores técnicos, mecanizados, até; um “socialismo selvagem” que mata o que o homem tem de essencial: o direito de sonhar. Durante toda a história, o que moveu o ser humano foi o desejo de alcançar o algo mais, o socialismo não permite. Caro leitor comunista, não quero perder a sua fidelidade (sem trocadilhos), mas se você me diz que não era o intento de Marx, criar um “socialismo selvagem” eu também vos digo que não era intenção de Weber, ao defender a racionalização do capital (A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo), criar o monstro chamado “capitalismo selvagem” e, no entanto, é assim que o capitalismo é visto. E por falar em FIDELidade, é comum suscitarem o exemplo de Cuba, que é um lugar onde a medicina é muito desenvolvida (mas que adianta uma medicina mega desenvolvida se mais da metade da população não tem acesso à rede de esgoto?) e que não se vê ninguém reclamando ou fazendo piquete por conta do sistema de governo, sequer à noite. Mas é óbvio que não se vê: o Estado forte coíbe e retalia qualquer ação nesse sentido, afora o toque de recolher que é imposto à população, então, por favor, sejamos razoáveis ao citar o exemplo cubano.
Pelo outro lado, temos um sistema que necessita de consumismo exacerbado, que para subsistir precisa que haja pessoas pobres. O capitalismo existe na medida em que um detém um montante considerável de capital, enquanto vários não possuem nada. Assim sendo, pouca oferta e muita demanda, o empregador geralmente oferece as mínimas condições necessárias ao empregado, este que tem que se submeter às condições impostas pelo seu chefe, porque ele sem o emprego é um desempregado, o empresário sem ele é um empresário sem ele, e só. De meados século XVIII até meados do século do XX (a quem diga que até hoje, não discordo) viu-se uma exploração descabível por parte dos empregadores, sobre os operários: jornadas de trabalho de até 14h; grávidas trabalhando por 12h seguidas; crianças se embrenhados entre os teares e todo e qualquer esboço de revolta era suprimido com o terrorismo psicológico da demissão. Mas não é necessário viajarmos ao passado para ver as situações inóspitas proposta por esse sistema que se julga democrático. O neoliberalismo que prega que o homem é responsável pelo seu destino, não leva em conta todo o contexto histórico que este cidadão está inserido. Esse discurso busca legitimar as disparidades entre as classes: se o filho do advogado se tornou médico, não é porque ele é da elite financeira, foi por que ele se dedicou, estudou e logrou êxito; pelo outro lado, se o filho do gari se tornou pedreiro, foi por que ele não quis conta com os estudos, se ele quisesse teria chegado ao mesmo lugar que o “Albuquerque” ou o “Damasceno”. É este o sistema que se diz democrático, que dá as mesmas oportunidades à todos.
Como já citei à cima, ao propor (na verdade ao expor) e defender a racionalização do capital Max Weber não estava tentando criar um monstro – até porquê à época, o capitalismo já estava mais que consolidado – e sim, mostrar como o “Espírito do Capitalismo” – que seria uma ação revestida de moral – poderia otimizar o desenvolvimento deste. No entanto, assim como a confusão que, supostamente, fizeram com Marx, também houve com Weber: muitos dos que o leram interpretou que o “espírito do capitalismo” era a propensão desenfreada ao ganho. E nessa propensão cabia qualquer ação que visasse o lucro. O que vemos hoje no mundo capitalista (todo o globo?) é um consumo desenfreado dos recursos naturais, como a maioria desses recursos são finitos, guerras têm sido desencadeadas (e isso não é teoria da conspiração) em nome do padrão de consumo. Vou citar para vocês um paradoxo: no pós-guerra tínhamos uma Berlim recortada entre franceses, ingleses, estado-unidenses e soviéticos. Mas de fato havia apenas duas Belim: a Ocidental (EUA) e a Oriental (URSS), sendo que elas eram divididas por um muro. O lado Ocidental dizia a quem estava do outro lado: “Venham. Aqui se tem de tudo, aqui cabem todos.” Engraçado, hoje na fronteira entre México e Estados Unidos também há um muro, só que o discurso é diferente. O que se diz do lado estado-unidense, hoje, é: “Não queremos vocês aqui. Não há espaço.”. Interessante isso, não acham?
Enquanto um vem com a proposta de uma classe única (e de fato cumpre: surge uma classe de miseráveis) o outro vem com a idéia de igualdade de oportunidades (vimos como ela se dá). Mas o fato é que nenhum dos dois cumpre satisfatoriamente com o que promete. Haveria solução, um programa que suprisse as necessidades básicas do ser humano, sem com isso matar-lhe o direito de sonhar? Sim, ele existe e “apelidado” de Social Democracia. A Social Democracia, ou política do bem estar social, é um sistema de governo (se assim o posso chamar) essencialmente capitalista que, no entanto, traz fundamentos do socialismo na sua estrutura. Mas devo alerta-lhe que está assaz enganado, fiel leitor (?), se achares que a política do bem estar social pode ser reduzida na equação: SOCIAL DEMOCRACIA= CAPITALISMO + SOCIALISMO/2 .A Social Democracia é bem mais que isso, e não pode ser reduzida a uma equação matemática, pois é um “ser de natureza própria”. Como eu disse, é uma forma de se fazer política que, hoje, está ligada intimamente ao capitalismo (apesar de seu nascimento por marxistas), pois suas relações comerciais se dão levando em conta a estrutura capitalista, no entanto, não temos aqui a selvageria freqüentemente atribuída a ele. As leis trabalhistas são respeitadas e, mais que isso, são fomentadas de modo a auxiliarem o trabalhador, por entenderem que este é “mais fraco” que o empregador. E, de fato, há países em que esse modelo foi implantado? Sim, eles existem. São países onde se chega ao absurdo de se pagar uma carga tributária de 80% em impostos, mas que se paga essa carga com a certeza de que o bem que virá em retorno para a comunidade em geral compensará. Logo o peso da carga de 80% é logo aliviado pelo retorno garantindo. As empresas têm prédios anexos, onde funcionam creches, clubes e cursos de capacitação profissional. Esses países, não á toa, encabeçam os Rankings de desenvolvimento: Suécia, Dinamarca e Finlândia, são os gigantes na área de inovação e de abraçar as novas tecnologias. Ranking do IDH em 2010: Noruega 1º; Suécia 7º, Finlândia 12º. Ranking da educação em 2010: Noruega 1º. São dados de domínio público, que todos podem ter acesso. Por essas e por outras sou um social democrata convicto.