sábado, 21 de agosto de 2010

Elucubrações sobre a querida Itabuna II

A terra como algo que se mistura com o sangue e os nervos, não encontraria definição melhor do que a de Adonias Filho, filho destas bandas, para reiterar o já havia escrito aqui. Por isso reafirmo, essas coisas não são facilmente cognoscíveis, passíveis de apreensão, essa paixão dormente que o sujeito guarda por sua terra. Insisto no imbróglio porque muitos devem se questionar: como apegar-se a Itabuna, essa pedra negra que nada tem a nos oferecer? Como alimentar esse compulsivo sentimento por um lugar que não tem nada de atraente? Uma terra sem governo, despolitizada?

Para explicar melhor isso, temos de conceituar Itabuna. Então, digamos, em poucas linhas, que Itabuna foi uma dessas cidades pródigas do cacau (não querendo desprezar a sua história colonial, embora a mesma seja obscura, graças ao “corajosos” colonizadores nossos que não passavam de caranguejos arranhando o litoral, como disse um certo frei) que se tornou destaque regional ficando subordinada à Ilhéus somente por causa do mar. O fruto de Ouro agourou-se enferrujado pela vassoura-de-bruxa e veio então a calamidade, esta que os trabalhadores das roças de cacau já conhecia e que agora afetava a aristocracia rural. Conseguiu, com sua fama de terra pródiga, polarizar o comércio reificando-o, e por isso se manteve e se mantém como pólo comercial, pois as pessoas não entendem que as mesmas são criadoras desse fenômeno criado pela mentalidade popular de que Itabuna é a cidade do comércio barato, e assim se firma porque realmente se torna barato por um simples consenso inconsciente (não, o contrato social é anacrônico).

Deixando de lado essas especulações sociológicas, a verdade é que a cidade individualizou-se ao buscar de todas as formas atrair e manter a circulação da moeda em suas bandas, como nos tempos gloriosos do cacau (se bem que o capital entrava na cidade pulverizava-se em gastos supérfluos através dos esbanjos dos coronéis que agora colhem miséria e uma vontade de restaurar a história que um dia lhes foram complacentes). Todos visam o comércio, todos querem abrir um negócio em Itabuna, todos querem ganhar dinheiro, eis o sentido da vida social contemporânea. Se possuo um capital, abro uma loja, se não tenho, vendo minha mão-de-obra ou dôo ela, compulsoriamente. Sorte desta mentalidade que acha um fluxo considerável de consumidores das cidades circunvizinhas para matar essa vontade pós-moderna de consumir para preencher o espaço vazio existencial. É claro que empreendedor não é somente o itabunense, mesmo assim, o empreendedor que mora em uma cidade vizinha que queira abrir um negócio e tendo condições para tal, vai se instalar por essas bandas, com certeza, pois a ideologia é forte. E com isso, se torna um consumidor, pelo menos da idéia de espaço promissor de empreendedorismo, e vou parar por aqui quanto à assuntos específicos, e ir ao fatídico problema da crise de identidade itabunense.

A cidade completou 100 anos de emancipação política e não houve nenhuma, disse, nenhuma obra de impacto popular, sim, porque é assim que se mede a eficiência política de um prefeito, pensando a nível opular, ou seja, local, pois considero ser consistente tal modo de mensurar. O prefeito anterior começou a construção de um teatro, o que seria uma grande obra em todos os sentidos, mas, de estirpe popular, o político viu que não iria atingir a quem queria atingir, a massa, ou não queria que a massa se instruísse culturalmente. Fico com a última alternativa, apesar do ícone em questão apresentar um grande cabedal de ignorância, o que me leva a pensar na primeira assertiva, entendendo que seria uma ação política ruinosa, o que não era a pretensão do dito cujo.

Virando a página, nos encontramos hoje com uma autoridade local que desrespeitou todos aqueles que prezam por essa terra, seja porque não erigiu nenhuma obra, seja porque até agora não mostrou nenhuma articulação pública que indicasse existir prefeito nessa cidade. Há, ingenuidade minha, estou me esquecendo dos escândalos, que são tantos e não queria relatar aqui por não ser este o intuito.

Ligando os fatos, o povo itabunense individualizou-se e com isso se tornaram despolitizados. Não preocupados com a vida pública comum a todos, e se virando para as suas vidas privadas, esqueceram que a cidade é uma vida em coletividade. Apostam na individualidade, e não se dão conta de quão é importante a política sua espécie. Política é a reafirmação de nossos valores locais. Ser Itabunense é dedicar-se valorização de nossa terra, nossa gente, e porque não pensarmos em uma confederação grapiúna? Isso foi possível em outros tempos, pode ser muito bem agora...

Sem delongas, pretendia escrever um post sobre a política itabunense, mas se estou elucubrando sobre a minha querida Itabuna, tinha de dar destaque a esses dois elementos que creio serem importantes para a revitalização da cidade com uma identidade original, no caso o rio e esse sentimento altruísta, e, por favor, não me chamem de chauvinista! Partindo dessas proposições, poderemos daí pensarmos em um movimento cultural que irá devastar toda essa ignorância inoperante que corrói nossa querida cidade, e descentralizar essa idéia de que somente o sul do país é intelectual, e o resto não, aliás, todos nós podemos ser sul, basta somente construírmos nosso ponto de referência, ou o ponto de apoio, e deslocar essa idéia (parodiando certo matemático/filósofo). Uma utopia? Sim, mas no sentido de que todo desejo é uma possibilidade de realização.

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